A indígena Rita Patiño Quintero, nascida no Estado de Chihuahua, norte do México, ficou presa 12 anos em um hospital. Ela se refugiava no porão do templo metodista de uma cidade no Kansas, nos Estados Unidos, quando a polícia chegou. Rita quase não falava espanhol, já que sua língua materna era o rarámuri, e por isso os agentes não a entenderam.
O interrogatório foi feito em inglês, mas Rita não conseguia entender e acabou sendo levada pelos agentes. A história dela foi contada no documentário “La Mujer de Estrellas y Montañas” (A Mulher de Estrelas e Montanhas), lançado em abril deste ano.
“Levaram um tradutor e ele faz um relato ridículo. Concluiu que ela devia ser indígena e que tinha vindo de algum país latino-americano. Mas mesmo não entendendo nada do que ela lhe dizia, ele comentou que as palavras de Rita não faziam sentido“, conta o cineasta Santiago Esteinou à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC.
“Eles a levaram ao tribunal e concluíram que ela não estava em pleno domínio de sua capacidade mental, que era um perigo para si mesma, então a levaram para um hospital psiquiátrico”, explicou ele, sobre a história que na vida real, começou em 1983.
Durante todo esse período no sistema judiciário do Kansas e na instituição para onde ela foi levada, a falta de tradutores que pudessem ajudar no caso prolongou seu tempo nas instituições. Rita não entendia o processo legal contra ela, não sabia onde estava nem por que estava presa.
Segundo o cineasta responsável por contar essa história, a partir dos documentos e entrevistas feitas por conhecidos, Patiño Quintero era uma pastora de ovelhas, parteira, fitoterapeuta, artesã e lavadeira, onde morava. A cunhada dela, a sobrinha, participaram do documentário.
Assim como alguns vizinhos, que conviveram com ela em uma comunidade na Serra Tarahumara. Eles contaaram que o rebanho de Rita foi roubado e ela foi acusada de ter assassinado o marido, algo que nunca foi provado. Após ter seu filho tirado dela, e diante de várias crenças sobre a mulher, Rita foi parar nos Estados Unidos, mas ninguém sabe como.
Depois do caso ser retomado, Rita teve alta, foi liberta e voltou para o México, em 1995, onde foi morar com uma sobrinha. Depois de 12 anos presa, com o apoio de uma ONG, a justiça americana decidiu por um acordo de indenização em US$ 90 mil (cerca de R$ 476 mil).
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