“É inadmissível”, diz rainha de bateria da Imperatriz após comentários racistas

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A rainha de bateria da Imperatriz Leopoldinense, Maria Mariá, registrou uma ocorrência sobre os ataques racistas que recebeu nas redes sociais. A denúncia foi feita na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, no Centro do Rio, na última quarta-feira (27). As ofensas começaram após a jovem de 20 anos postar um vídeo sambando, no último final de semana, durante as eliminatórias dos sambas-enredo da escola, para o Carnaval 2024.

Assim que o vídeo começou a circular, internautas insinuaram que Mariá estava atrapalhando os ritmistas próximos a ela, com o movimento das tranças que usava. Para o Notícia Preta, a sambista e estagiária de comunicação contou que as pessoas tiveram essa impressão por conta do ângulo da gravação, mas que isso não aconteceu. A Rainha também contou do momento que decidiu registrar o caso na delegacia.

Quando as ofensas eram sobre não gostar de mim como pessoa e indivíduo, ok, ninguém é obrigado a gostar de ninguém. Mas quando isso aconteceu [os ataques racistas e misóginos] eu pensei: está na hora de agir, pois as pessoas acham que as ações delas não tem nenhuma reação, e não é bem assim que funciona. Isso não pode ser normalizado, é inadmissível“, disse Mariá.

Maria Mariá, rainha de bateria da Imperatriz Leopoldinense / Foto: Nelson Malfaccini

Os comentários feitos, atacam tanto a rainha de bateria, quanto suas tranças. “Incrível como essas minas adoram jogar esses cabelos de boneca velha na cara dos outros“, disse uma internauta. “Se eu fosse [integrante] do chocalho, eu acenderia um isqueiro na trança dela e ela não ia nem ver de onde veio o fogo“, afirmou outra.

Ou eu puxava essas tranças feias ou ela ia conhecer o som do chocalho“, declarou mais uma pessoa.

Ao NP, Mariá desabafou sobre não ter sido a primeira vez que sofreu racismo, e que para além desse caso, muitos outros acontecem diariamente, por conta do racismo estrutural. Porém, a sambista afirma que isso não pode impedir que as pessoas negras continuem vivendo.

A gente tem o direito de estar onde a gente quiser, e a gente vai estar! Não importa o lugar que você esteja, quanto mais visibilidade você tiver, mais vão tentar te minar. O racismo, quando ele não nos mata, ele nos adoece. Por isso é importante que a gente se fortifique, entre os nossos. Eu escolhi não sentir mais essa dor“, disse.

Pronunciamento e apoio

A jovem chegou a postar um pronunciamento nas redes sociais, contra os ataques. “Como graduanda em comunicação social, sei bem como o efeito manada na internet funciona. Os algorítimos são falhos e rápidos, alimentam quase sempre o que não deveria (…), mas não se pode esperar muito de algo racista, não é mesmo? Verdadeiramente, não me abala. Ninguém agrada todo mundo“, declarou durante o texto, que continuou:

Aos misóginos e racistas, (…) eu estou bem! O que me preocupa e entristece é a ideia. O pensamento é muito poderoso, principalmente quando se tem a intenção de ferir o próximo. Espero verdadeiramente que meu posicionamento fortaleça cada um de vocês! O racismo é vertiginoso na nossa sociedade, infelizmente“.

A própria Imperatriz também postou uma nota oficial em repúdio aos ataques contra a rainha. “O conhecimento e a luta contra qualquer forma de racismo, seja ele individual, estrutural, institucional ou ambiental, são pautas urgentes. A luta para exorcizar este modo criminoso de agir e pensar é fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e democrática“, diz parte da nota.

Outras personalidades do samba também se manifestaram. “Não é fácil, não. Mas você tem uma força extraordinária, não se esqueça disso!“, disse Evelyn Bastos, rainha da Mangueira. “Ninguém imagina o que nós passamos, os nossos corres. A internet é uma via de mão dupla e ‘terra de ninguém’. Haja paciência! Você é incrível, rainha!“, afirmou Mayara Lima, rainha do Paraíso do Tuiuti.

Mariá conta que esse apoio, da escola, comunidade e de todos que a defenderam, foi fundamental. “O amor que você recebe, é sete vezes maior que todos os comentários preconceituosos“, disse.

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Bárbara Souza

Bárbara Souza

Formada em Jornalismo em 2021, atualmente trabalha como Editora no jornal Notícia Preta, onde começou como colaboradora voluntária em 2022. Carioca da gema, criada no interior do Rio, acredita em uma comunicação acessível e antirracista.

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