Novos dados do Censo 2022 divulgados na última sexta-feira (05) pelo IBGE escancaram a desigualdade socioambiental entre as grandes favelas brasileiras e o restante das cidades. O levantamento mostra que 64% dos moradores de favelas e comunidades vivem em vias totalmente desprovidas de árvores, um percentual mais que o dobro do registrado fora desses territórios, onde 31% da população vive em trechos sem arborização. O dado afeta diretamente questões como conforto térmico, saúde, bem-estar e qualidade de vida, especialmente em regiões historicamente negligenciadas pelo poder público.
O Brasil tem mais de 12,4 mil favelas, que concentram cerca de 16 milhões de pessoas. Entre as 20 maiores do país, a Rocinha (72.021 moradores), no Rio de Janeiro, lidera em população. Na sequência aparecem Sol Nascente (70.908), em Brasília, Paraisópolis (58.527), em São Paulo, e Cidade de Deus/Alfredo Nascimento (55.821), em Manaus. Outras grandes comunidades como Rio das Pedras, Heliópolis, São Lucas, Coroadinho, Beiru/Tancredo Neves, Pernambués e Jacarezinho compõem o ranking, evidenciando a dimensão urbana e social desses territórios.

Apesar dessa relevância, a presença de árvores nas vias é mínima em muitas dessas áreas. Em Rio das Pedras, apenas 3,5% dos moradores vivem em trechos com ao menos uma árvore na rua. Fora das favelas do Rio, essa proporção é de 26%. Entre as maiores comunidades, as melhores situações aparecem em Sol Nascente (71%), Zumbi dos Palmares/Nova Luz (58%) e Grande Vitória (46%), todas com índices muito acima da média nacional para favelas.
A desigualdade se repete quando o tema é infraestrutura básica. Só 2,4% dos moradores das 20 maiores favelas vivem em trechos de calçadas sem obstáculos. Em locais como Rocinha e Grande Vitória, menos de 0,5% contam com esse tipo de acessibilidade. Já em Vila São Pedro (São Bernardo do Campo), Baixadas da Estrada Nova Juruna e Baixada da Condor (Belém), os índices superam 5%, ainda assim muito abaixo dos 22% registrados nas áreas urbanas fora de comunidades.
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Para a gerente de Favelas e Comunidades Urbanas do IBGE, Leticia Giannella, os novos dados permitem dimensionar, pela primeira vez, um retrato comparativo entre dentro e fora das favelas usando o mesmo questionário. “Isso evidencia a desigualdade socioespacial do país”, afirma.
A capacidade viária também revela disparidades. Enquanto 62% dos moradores de favelas vivem em áreas onde ônibus e caminhões conseguem circular, esse índice chega a 93% fora desses territórios, impactando serviços como ambulâncias e coleta de lixo.









