“Eu não tenho palavras para descrever a emoção, me dá vontade de chorar só de contar”, disse Katia Silvério, capitã do reinado de Nossa Senhora do Rosário e de Santa Efigênia, após encontrar a bandeira de Reinado datada do século XVIII. Localizada em uma pequena capela do bairro Padre Faria, em Ouro Preto, cidade histórica mineira, a bandeira é feita de aço fundido, e pintada com as imagens de Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São Benedito.
Ainda segundo ela, estava a procura de outra bandeira, quando foi alertada pelo zelador da capela que havia outra mais antiga. “Eu procurava a bandeira de Nossa Senhora do Rosário, que usamos todos os anos. Ela fica na Capela de Padre Faria. Mas aí, seu Wilson, o zelador que tem quase 90 anos, disse para mim que sabia de uma mais antiga. Ele foi me mostrar e aí me arrepiei toda quando vi”, disse.
Em entrevista ao G1, o restaurador Aldo Araújo comenta que 45% da pintura se perdeu, por conta da ação do tempo, mas que, aos poucos, eles estão repondo a pigmentação da perdida.“Ela foi feita em ferro fundido de pelo menos 200 anos. Os pigmentos são de origem mineral e vegetal, como a linhaça”, disse.
Vindos de África
Segundo a historiadora e diretora de Promoção da Igualdade Racial da Prefeitura de Ouro Preto, Sidnéa dos Santos, no século XVIII, época em que aparenta ser a bandeira, quem dominava esse ofício eram os africanos de Benin, Gana e Burkina Faso, sequestrados pelos portugueses e trazidos para Ouro Preto.
Admirada pela descoberta da bandeira Kátia ressaltou a importância do resgate da bandeira. “É nossa ancestralidade. Nossos antepassados coroavam reis negros em Vila Rica. Marcaram com ferro a nossa história. E o ferro simboliza pra gente o sagrado”, finalizou emocionada
No próximo sábado (11), a bandeira será oferecida durante a festa de entrega da Casa da Cultura Negra de Ouro Preto.