“O povo haitiano não aguenta mais a barbárie das gangues armadas”, algo similar ao que se vive em zonas de guerra “que comovem o mundo”, disse o ministro das Relações Exteriores do Haiti diante do Conselho de Segurança da ONU nesta quinta-feira (25).
“Se atualizássemos e publicássemos diariamente as estatísticas das atrocidades sofridas pela população haitiana por parte das gangues armadas, como fazem outras populações que sofrem, vocês compreenderiam que não há nenhuma diferença entre as bestialidades que vivemos e que comovem o mundo diante dos horrores e da barbárie da guerra e dos conflitos armados em outras partes”, disse o chanceler haitiano Jean Victor Généus.
Após ressaltar que está viajando para Nova York há “quase dois anos” para apresentar “um panorama cada vez mais triste e sombrio da situação” em seu país, disse que espera que esta seja realmente a última vez “antes do envio ao terreno de uma força multinacional de apoio à segurança”, autorizada pelo Conselho de Segurança em outubro.
“Cada dia que passa é mais um dia […] que vivemos no inferno das gangues”, disse o ministro, em uma sessão dedicada a analisar a crise na nação caribenha.
Contudo, o envio da força internacional está se deparando com alguns obstáculos, em particular no Quênia, país que se ofereceu para dirigir a missão e enviar 1.000 policiais.
Apesar de ter sido aprovado em novembro pelo Parlamento do país africano, o envio segue no ar devido ao recurso de um opositor que alega sua inconstitucionalidade. A decisão da Justiça queniana é esperada nesta sexta-feira.
Em 2023, cerca de 5.000 pessoas morreram por decorrência da violência “indiscriminada” que assola o Haiti e mina os fundamentos do Estado, segundo um relatório do secretário-geral da ONU, António Guterres, publicado nesta terça-feira.
“A magnitude desta crise multidimensional está minando os fundamentos das instituições do Estado e a estrutura social”, alerta o documento.
Nesta quinta, a representante especial do secretário-geral da ONU para o Haiti, a equatoriana María Isabel Salvador, lembrou que o país “continua assolado por uma espiral de violência cada vez maior devido ao aumento sem precedentes de sequestros, estupros e outros crimes cometidos por grupos armados que afetam cada vez mais a população”.
“Não posso exagerar a gravidade da situação no Haiti, onde múltiplas crises prolongadas atingiram um ponto crítico”, disse.
Contudo, advertiu que, embora uma melhora da segurança seja “essencial para romper o ciclo de crise”, “a estabilidade no longo prazo só pode ser conquistada através de um processo político nacional e inclusivo”.
Nesse sentido, a representante de Guterres disse que sente “um alento” pelos esforços das autoridades haitianas para melhorar o sistema de justiça e lutar contra a corrupção.
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