A tradicional Festa da Boa Morte, que acontece na cidade de Cachoeira, localizada no Recôncavo Baiano, começou no início da semana e segue com com programações religiosas e culturais até este sábado (17). O evento acontece há mais de 200 anos e celebra a religiosidade e a cultura afro-brasileira na região.
Do mesmo modo, em 2010, a festa foi inscrita no Livro de Registro Especial de Eventos e Celebrações pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), tornando-se um Patrimônio Imaterial do estado, que atrai diversos devotos e turistas.
De acordo com a estudante da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Stefanie Bela, que frequenta as celebrações desde 2023, o evento é uma oportunidade de se reconectar com sua ancestralidade.
“A festa remete ao que a Irmandade representou para os escravizados. Manter essa tradição nos conecta com a nossa ancestralidade, pois tem muitas pessoas de Axé e de religião de matriz africana“, explica a estudante, que já foi a festa deste ano.
Irmandade da Boa Morte: conheça a história
A Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte é formada apenas por mulheres negras e teve início em Salvador no século XIX. Por volta de 1820, o grupo religioso afrocatólico, responsável pela alforria de diversos negros escravizados, foi transferido para a cidade de Cachoeira, por consequência de perseguições.
Além disso, desde seu início, a Festa da Boa Morte, que sempre acontece no mês de agosto, teve como objetivo principal o culto à Nossa Senhora, para celebrar sua morte, velório e ascensão. Atualmente, as irmãs seguem com sua missão social, principalmente na área da educação, em busca do combate ao racismo e da intolerância religiosa.
Programação
Na última quinta-feira (15), dia dedicado à Nossa Senhora da Glória, além da alvorada festiva que aconteceu no início da manhã, também houve a transferência dos cargos com a posse da nova comissão de festa, a tradicional valsa das irmãs e a feijoada na sede da irmandade, seguida de samba de roda.
Nesta sexta-feira (16), penúltimo dia das celebrações, será realizado o cozido, às 18h. No sábado (17), no mesmo horário, a festa encerrará com o tradicional caruru e samba de roda no largo D´Ajuda.
Para Stefanie, a Festa da Boa Morte é a representação da diversidade e do respeito com o sagrado. “É muito legal como a cidade se movimenta em torno desse evento, e o Brasil e o mundo também, porque tem pessoas de outros estados e países que vêm conhecer a festa por conta da importância da Irmandade”.
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