Conectar os moradores do Morro do Santo Amaro, favela entre o Centro e a Zona Sul do Rio de Janeiro, com as principais discussões feitas durante o South by Southwest (SXSW) deste ano, maior evento de tecnologia e criatividade do mundo. Esse é o objetivo do evento “Favela Inspira”, realizado na última sexta-feira (28).
A iniciativa é uma parceria do Itaú Unibanco, a plataforma de conexão entre empreendedores e marcas, Digital Favela, e o Laboratório de Inovação do Morro Santo Amaro 2050, que juntos levaram para a comunidade debates capazes de fortalecer a potência que já existe na favela.
As rodas de conversa foram comandadas por Bárbara Bono, líder de novos negócios e brand experience da Digital Favela e por Marcelo Rocha, ativista climático e fundador do Instituto Ayika, que juntos levaram suas reflexões quanto os temas debatidos durante a SXSW, evento no qual ambos participaram, realizado em março na cidade de Austin, no Texas (EUA).
“Essa conversa fica muito em uma bolha, às vezes. Ela não desce. E aí parecia uma coisa meio utópica quando nós fomos assistindo as palestras. E aí claro que sempre tem alguma referência que é importante a gente saber, a gente precisa se conectar com mundo mas a gente quis muito fazer essa história aqui por que a gente quer que o mundo também se conecte com o que a gente está trazendo de inovação”, disse Bárbara Bono no discurso de abertura.
E logo após, Vanessa Tavares, Head de Negócios Digitais PME do Itaú, entrou na roda de conversa para falar da perspectiva da empresa quanto ao apoio a iniciativas como essa e do uso da plataforma de inovação da companhia. Em entrevista ao Notícia Preta, Vanessa afirmou que olhar para as possibilidades que as favelas possuem é conversar diretamente com seus clientes, e ouvi-los.
“Tem uma pluralidade aqui para ser capturada, uma potência que agrega muito ao dia a dia dos nossos negócios. Então trazer outros pontos de vista para construir os nossos produtos para os nossos clientes, que estão em todos os lugares – na favela, fora em áreas rurais e urbanas – é super importante para o banco do futuro”, explica Vanessa.
Dentre as questões abordadas no evento, que foram desde a realidade virtual, a inteligência artificial e o uso dessas ferramentas – abordando também os problemas sociais, como por exemplo o racismo, que reflete na forma que elas trabalham -, até as outras tecnologias que transcendem ao que parece tangível quando se pensa no assunto.
Tecnologia Ancestral. Esse foi o tema apontado por Roberta Camargo, jornalista, influenciadora nascida e criada em Brasilândia, zona norte de São Paulo. “Se a gente chegou em algum lugar foi porque antes tiveram tecnologias ancestrais de união, de troca, de perpetuar a nossa história através da cultura, da arte, da contação de histórias, na dança, na capoeira…Enfim, e essa união é o que fomenta qualquer outro acesso que a gente vai ter a qualquer tecnologia que facilite a nossa vida e nos permita aprimorar essas conexões”, diz.
Esse tema também foi abordado por Pamela Carvalho, coordenadora do Redes Maré. “É muito importante que para a gente pensar o futuro, a gente não perca de vista o que veio antes de nós. Então a gente pensar inovação e solução é muito importante a gente olhar para as nossas e nossos mais velhos, olhar para a nossa ancestralidade, a gente consegue projetar um futuro muito melhor”, diz Pamela.
Além disso, o Notícia Preta também conversou com Renata Lopes, mãe, assessora e parceira de Gean Guilherme, fundador do movimento 2050 e do Laboratório de Inovação do Morro Santo Amaro. Mulher preta, nascida e criada na comunidade em que o evento foi realizado, Renata conta como tanto o movimento quanto o laboratório surgiram a partir da união do desejo de apoiar sua comunidade e o universo da arte digital, com que Gean trabalha.
“A gente não tinha nada disso, e durante a pandemia foi quando tivemos a ideia de ajudar as pessoas. O Gean conseguiu fazer um NFT, vendeu para quem pudesse contribuir e isso foi usado para ajudar a comunidade. E deu certo. Hoje a gente faz um trabalho muito bonito, e aí o Itaú veio e abraçou a ideia de fazer isso com a gente e mostrar para a comunidade que nós podemos fazer sim, e que dentro da comunidade tem pessoas inteligentes e capazes sim!”, conta.
Renata Lopes, que deixou seus próprios objetivos para ajudar o filho e sua comunidade, viu sua vida mudar desde a criação do Laboratório, e também a de jovens e famílias que são beneficiadas pela empresa criada por seu filho. Renata também não esconde o orgulho de ver esse tipo de movimentação sendo feita dentro da favela, que segundo Renata, vive um momento de novas possibilidades.
“Isso que o Santo Amaro está vivendo é muito lindo. As pessoas começaram a ver a gente com outros olhos. Antes aqui ninguém entendia o que era tecnologia, hoje a gente levanta um drone, fazer uma escultura 3D…Eu tô muito feliz”, conta.
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