Primeira mulher do Brasil a ganhar medalha de ouro em um mundial de natação, Etiene Medeiros iniciou sua carreira em 2003, aos 12 anos de idade e, desde então, é defensora de 5 recordes sul-americanos, 2 americanos e 1 mundial. Ela está nas Olimpíadas de Tóquio 2020, representando o Brasil. Etiene deu uma entrevista ao Notícia Preta e falou sobre sua trajetória e expectativas para a olimpíada.
Etiene Medeiros é natural do Recife (PE) e iniciou sua carreira esportiva aos 8 anos de idade, fazia balé, basquete e natação, mas foi 3 anos depois, no Nikita Natação – SESI, que a nadadora bateu resultados brasileiros e começou a fazer parte da seleção brasileira de natação. Para Etiene, na sua trajetória tudo aconteceu de forma natural, e como resultado do seu esforço e trabalho, as conquistas foram chegando. “No processo de ser atleta e de se tornar um atleta forte, de alto rendimento, isso foi muito natural, e as conquistas vieram diante de tanto esforço e tanto treino. Então foi muito natural”, afirma.
Sendo a primeira mulher a ganhar uma medalha em um mundial (2014) e nos jogos pan-americanos (2015), a nadadora, ao falar sobre a importância de ocupar esse espaço como mulher negra, disse saber bem o peso dessa representação. Para ela, profissionalmente e na sua vida pessoal, é muito bom. “Hoje me dou bem com essa representatividade, as pessoas me olham como exemplo e acho isso muito gratificante e motivador, para chegar nas competições bem. Minha missão mesmo é mostrar para as pessoas que elas são capazes de correr atrás dos sonhos que elas querem alcançar, sendo o mais tranquilo e divertido possível quando o assunto é a área do esporte”, enfatiza.
“Assim como em outros esportes elitizados, a equipe de natação brasileira não tem muitas pessoas pretas”
Etiene é uma das poucas pessoas pretas na equipe de natação brasileira, ela relatou que sempre teve contato com o racismo e o preconceito, principalmente pelo seu cabelo. Uma figura importante na construção racial dela foi o também nadador da equipe brasileira, Nicolas Nilo Oliveira. “O Nilo sempre foi um atleta que conversava muito sobre esses aspectos raciais, diálogo, começou a me mostrar esse olhar em aeroportos. Essa fala do Nilo acontecia algumas vezes: ‘Olha, vamos colocar o casaco agora porque vamos estar uniformizados de forma igual’. Era uma coisa naturalizada, mas que a gente sabia que podia acontecer”, disse.
Para Etiene, ser uma mulher preta e nordestina ocupando esse espaço é um desafio diário. “Dentro do esporte, eu consegui ter força e muita perseverança para lutar pelo meu espaço, a minha consciência como mulher negra, nordestina, brasileira. Nunca desista, conquiste seu espaço, zele pelo momento que você está, pela oportunidade que você está recebendo. Com muita dedicação e força de vontade, você consegue”, contou a nadadora.
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Olimpíadas de Tóquio 2020
Os jogos Olímpicos de Tóquio 2020 acontecerão entre os meses de julho e agosto, devido a pandemia do novo coronavírus, e Etiene Medeiros também estará presente na competição representando o Brasil, sendo a sua segunda participação em Olimpíadas.
Em meio a uma pandemia, a atleta vê os jogos como uma esperança para o Brasil e o mundo, além de uma oportunidade de trazer alegria para a população. “Nadar a segunda Olimpíada da minha carreira, é uma gratidão imensa. Não é fácil classificar-se para a Olimpíada, principalmente num ano tão atípico. Quando vemos que deu certo, bate uma tranquilidade. Me sinto feliz e também que tenho uma representatividade muito forte para essa natação feminina e para o esporte”, concluiu Etiene.