EUA vetam África do Sul no G20 e ampliam tensões raciais e geopolíticas ao convidar Polônia para “novo G20”

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A decisão dos Estados Unidos, sob o governo Donald Trump, de vetar a participação da África do Sul no G20 e convidar a Polônia para ocupar seu lugar desencadeou forte repercussão internacional e acendeu alertas sobre o avanço de políticas externas marcadas pela supremacia geopolítica e por discursos que reforçam desigualdades raciais históricas. O movimento, anunciado pelo secretário de Estado Marco Rubio, insere-se na proposta americana de criar “um novo G20”, alinhado aos interesses estratégicos de Washington e baseado em afinidades políticas, e não na representatividade global.

Rubio afirmou que o governo sul-africano promove perseguição à população branca e desapropriação de terras, acusações repetidas há anos por setores conservadores americanos, mas nunca comprovadas. A retórica ecoa narrativas raciais distorcidas que buscam apresentar africanos como opressores de minorias brancas, ignorando séculos de colonialismo, apartheid e desigualdades estruturais ainda em curso no país.

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Líder americano assume a presidência do grupo e tenta redesenhar seu foco e sua composição

O veto, contudo, tem implicações profundas. A África do Sul é o único país africano, além da União Africana, com assento no G20, e sua exclusão simboliza uma tentativa de retirar o continente africano de espaços decisórios globais. Em um mundo onde países africanos ainda lutam para ter voz em temas como clima, comércio, dívida externa e segurança alimentar, a iniciativa representa um retrocesso no debate sobre justiça global.

Enquanto isso, a Polônia, governada atualmente por um presidente nacionalista de direita, foi celebrada por Washington como “parceira natural”. A justificativa, centrada em afinidade política e alinhamento econômico, reforça a guinada ideológica que Trump pretende imprimir ao grupo: menos debate climático e social; mais acordos econômicos favoráveis aos EUA.

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Durante a presidência sul-africana no G20, Washington travou negociações e dificultou a aprovação de resoluções finais, criticando a agenda que priorizava diversidade, inclusão e mudanças climáticas, temas essenciais para o Sul Global.

Especialistas alertam que excluir a África do Sul enfraquece o multilateralismo, aprofunda assimetrias entre Norte e Sul e legitima discursos racializados que questionam a capacidade de países africanos liderarem agendas globais. A reação internacional deve se intensificar nas próximas semanas, já que as decisões do G20 dependem, historicamente, de consenso.

A primeira reunião de negociadores, com participação do Brasil, acontecerá nos dias 15 e 16 de dezembro, em Washington. Até lá, cresce o receio de que o “novo G20” se transforme em um bloco menos democrático, menos diverso e mais alinhado a interesses exclusivos do governo americano.

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