EUA destinam 295 mil dólares para conservação de último navio escravista a desembarcar no Brasil

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O Consulado-Geral dos Estados Unidos no Rio de Janeiro anunciou nesta semana, em cerimônia no Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (Muhcab), o aporte de 295 mil dólares ao Instituto AfrOrigens, destinado a ações de conservação dos destroços do brigue Camargo, último navio escravista documentado a desembarcar africanos escravizados no Brasil em 1852. A embarcação se encontra naufragada desde aquele ano no litoral de Angra dos Reis.  

Os recursos vêm do Fundo dos Embaixadores dos Estados Unidos para Preservação Cultural (AFCP, na sigla em inglês), um programa criado pelo Departamento de Estado dos EUA em 2001 para fornecer apoio financeiro a iniciativas de preservação do patrimônio cultural global. O AFCP já beneficiou dez sítios históricos brasileiros anteriormente.

Evento que anunciou o aporte aconteceu no Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (Muhcab) /Foto: Divulgação Consulado EUA Rio

O suporte ao brigue Camargo simboliza perfeitamente o que o Fundo dos Embaixadores representa: um compromisso duradouro dos EUA com a preservação da memória cultural, a promoção da compreensão histórica e fortalecimento dos nossos valores compartilhados”, disse a embaixadora Elizabeth Frawley Bagley.  

Ao longo de três anos, período de vigência do investimento, serão desenvolvidas atividades de arqueologia subaquática, que incluem mapeamento 360º de todo sítio arqueológico, identificação, estudo, análises históricas e preservação de todas estruturas e artefatos que forem encontrados. 

Além disso, em terra, o projeto contemplará a proteção da memória da comunidade quilombola local, Santa Rita do Bracuí, descendente de africanos escravizados transportados por navios escravagistas como o Camargo. As ações incluirão sinalização de pontos de relevância histórica na região, como porto clandestino, cemitério de escravizados e estruturas da fazenda de recepção, documentação e preservação. Quilombolas membros da comunidade foram contratados formalmente para participarem de forma ativa dos trabalhos, através de uma base já instalada dentro do quilombo. Eles serão treinados em técnicas como iniciação à arqueologia, mergulho submarino, documentação e produção audiovisual para que possam transformar os resultados do trabalho em recursos sustentáveis para a comunidade.  

O AFCP é um reconhecimento fundamental para o AfrOrigens e a comunidade quilombola do Bracuí. Ao fomentar o uso sustentável desse patrimônio histórico, o projeto fortalece a luta por direitos territoriais, promove a valorização da identidade cultural afrodescendente e cria oportunidades sustentáveis de geração de renda. Essa iniciativa consolida o papel do patrimônio como ferramenta de transformação social e reparação histórica, conectando o passado ao presente para inspirar futuros mais justos e inclusivos”, disse o presidente do AfrOrigens, Luis Felipe Santos.  

O AFCP  

O Fundo dos Embaixadores para a Preservação Cultural foi estabelecido em 2001 pelo Departamento de Estado dos EUA para salvaguardar o patrimônio cultural global. Esta iniciativa surgiu de preocupações com a destruição de sítios históricos e tradições culturais devido a conflitos, desastres naturais e globalização. 

O fundo fornece apoio financeiro para projetos destinados a preservar o patrimônio cultural em todo o mundo. Através de subsídios, ele envolve comunidades e organizações locais, promovendo a colaboração internacional e o intercâmbio cultural. O fundo apoia projetos como a restauração de edifícios históricos, a conservação de artesanato tradicional e a promoção de práticas culturais, aprimorando, em última análise, o entendimento intercultural. 

Em 2018, também no Rio de Janeiro, o AFCP concedeu 500 mil dólares para trabalhos de preservação do Cais do Valongo, maior porto preservado de desembarque de cerca de um milhão de africanos escravizados nas Américas. 

O Camargo  

Roubado e depois capitaneado por Nathaniel Gordon, o brigue trazia cerca de 500 africanos de Moçambique para trabalharem escravizados em lavouras brasileiras em 1852, dois anos após a promulgação da lei Eusébio de Queirós, que proibia o tráfico de escravizados ao Brasil. Quase uma década depois, o capitão foi capturado no Congo, condenado e sentenciado à morte nos EUA, se tornando o único americano executado por tráfico de africanos escravizados.  

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