Depois de circular por diversos palcos do Brasil, o premiado espetáculo “Rosas Negras” retorna com apresentações abertas ao público, em terreiros de candomblé da Bahia, seu local de criação e origem. As apresentações são gratuitas e começam nos dias 12 e 13 de julho, no Terreiro Loba’Nekun Filho (Cachoeira).
O solo cênico, que nasce da pesquisa historiográfica da atriz alagoinhense Fabíola Nansurê, aborda vivências e histórias de mulheres negras, a partir da afirmação da sua autoestima. As outras apresentações acontecem nos dias 20 e 21 de julho no Unzo Matamba NZAMBI (Camaçari) e 26 e 27 de julho no Terreiro Oyá Matamba – Ile Asé Iba Omi Ajo Ewe (Lauro de Freitas).
Para Fabíola Nansurê, que criou e estreou o espetáculo no terreiro e ponto de cultura Ilê Axé Oyá L’adê Inan, é muito representativo iniciar uma temporada em outras casas de axé baianas, convidando o público geral a conhecer e quebrar preconceitos sobre esses espaços.
“Nós viajamos muito com Rosas Negras e pisamos em importantes palcos do cenário teatral brasileiro, como o Teatro Ruth de Souza (RJ) o Teatro Arthur Azevedo (MA) e Teatros de Salvador e São Paulo, mas voltar para o chão sagrado do terreiro, que é minha base, onde eu moro, é muito especial. Minha arte nasce desse lugar, que é muito mais do que uma religião. É uma tradição e uma forma de viver!”.
A artista destaca ainda que o espetáculo é um marco na sua carreira. “Rosas Negras define a artista que eu sou e que desejo ser. Fala das minhas raízes e origens, de tudo que me fortalece, dos ensinamentos e aprendizados que quero compartilhar com o mundo” .
Parte das sessões contam com intérpretes de Libras durante as apresentações do espetáculo. Mais informações podem ser acompanhadas no instagram @rosasnegras.espetaculo
Sobre o espetáculo
Com uma atmosfera provocativa, intensa e ao mesmo tempo acolhedora, o espetáculo apresenta as dificuldades, lutas, vitórias e desafios presentes no cotidiano de mulheres negras, a partir da afirmação da sua autoestima. A intérprete-criadora, Fabíola Nansurê parte de sua pesquisa com mulheres negras de diferentes idades e áreas de atuação para a construção da narrativa que traz histórias de anônimas e famosas que se destacaram na luta contra o racismo e a violência contra a mulher.
“A intenção vai além de se posicionar perante as dores da mulher preta, que são muitas, nós celebramos a sua existência e abrimos um canal de diálogo”, afirma Fabíola.
“Rosas Negras” tem dramaturgia de Onisajé, direção de Diana Ramos e direção musical de Jarbas Bittencourt. Foi premiado nas categorias de Melhor Espetáculo e Melhor Dramaturgia no 2° Festival de Teatro Online em Tempo Real do Rio de Janeiro em 2021, indicado ao Prêmio Braskem de Teatro na categoria “Espetáculo do Interior” no mesmo ano. Em 2023 é o espetáculo teatral baiano ganhador do 1º Prêmio Pretas Potências.
O espetáculo põe em cena a beleza, o vigor, a inteligência, a sensualidade e sensibilidade da mulher negra, lutando contra os estigmas e os estereótipos imputados a elas pelo processo de colonização. “Rosas Negras reverência à ancestralidade feminina, coloca a mulher negra como protagonista da sua própria história, cria referência, empodera, potencializa a autoestima e valorização de nossas raízes negras”, destaca a atriz.
Oficinas dialogam com saberes ancestrais e formação de agentes culturais
Além do espetáculo, o projeto Rosas Negras propõe oficinas em todas as suas edições. Neste ano, serão ofertados dois eixos formativos com o objetivo de evidenciar, desestigmatizar e aproximar o público das casas de axé. O primeiro eixo será realizado por facilitadores de dentro do terreiro, com o objetivo de valorizar o saber ancestral e cultural desses espaços, como a culinária, o artesanato e a economia criativa. “Muito da cultura originada nos terreiros integra o dia a dia do povo baiano e fazem parte do nosso patrimônio cultural”, destaca o produtor artístico do projeto, Ominjarê.
O segundo eixo é focado na formação de agentes culturais acontecerá como contrapartida do projeto em formato híbrido. Serão ministradas oficinas de Produção Cultural Negra nas Artes Cênicas com Ominjarê; Comunicação para Redes Sociais com Caroline Vilas Bôas e Estratégias de Acessibilidade para Projetos Culturais com Eurides Nascimento.
Todas as oficinas são gratuitas e qualquer pessoa que tenha interesse pode se inscrever para participar das aulas. De acordo com Ominjarê, com esses dois eixos a intenção é trocar e fortalecer o acesso a conteúdos culturais dentro dos terreiros. “Conhecimento é poder. Nossa intenção é engajar esses novos agentes a produzirem cada vez mais projetos que evidenciem a cultura negra, afro-brasileira e de terreiro”
O projeto ainda propõe a realização do bate-papo temático “Ipadê das Rosas Negras”. Neste espaço, mulheres negras dos terreiros se reúnem para participar de discussões promovidas pela atriz Fabíola Nansurê, gerando debates atrativos e provocativos sobre as temáticas levantadas no espetáculo e propostas pelas ìyalorixás, como por exemplo o combate ao racismo, intolerância religiosa e ancestralidade afrodiaspórica.
Este projeto foi contemplado nos Editais da Paulo Gustavo Bahia e tem apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura via Lei Paulo Gustavo, direcionada pelo Ministério da Cultura, Governo Federal. Paulo Gustavo Bahia (PGBA) foi criada para a efetivação das ações emergenciais de apoio ao setor cultural, visando cumprir a Lei Complementar nº 195, de 8 de julho de 2022.
Serviço
>Espetáculo Rosas Negras com Fabíola Nansurê
Gratuito e aberto ao público
12 e 13 de julho: Terreiro Loba’Nekun Filho.
Endereço: Rua Porta Sabino de Campos, N° 16 Monte, Cachoeira – Bahia.
20 e 21 de julho: Unzo Matamba NZAMBI.
Endereço: Loteamento Portal de Arembepe, Qd 26, Lote 06
Arembepe – Camaçari – Bahia.
26 e 27 de julho: Terreiro Oyá Matamba.
Endereço: Rua Mario Ogando, 22, Portão, Lauro de Freitas – Bahia.
> Oficinas Formativas
Gratuito | Inscrições no instagram @rosasnegras.espetaculo
11 de julho: Terreiro Loba’Nekun Filho (Cachoeira): Oficina – Culinária de Terreiro: O Alimento Sagrado de um Povo.
19 de julho: Unzo Matamba NZAMBI (Camaçari): Oficina – Culinária de Terreiro: Confecção de Acarajés e Akassás.
25 de julho: Terreiro Oyá Matamba (Lauro de Freitas): Oficina de Confecção de Paramentas de Axé: A Arte e o Sagrado como Economia Criativa Ancestral.
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