Espetáculo “Ninguém sabe o meu nome” com atriz Ana Carbatti faz curta temporada no Rio

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O espetáculo “Ninguém sabe o meu nome” retorna ao Rio de Janeiro para uma curtíssima temporada que acontece até 15 de dezembro no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto. Idealizada por Ana Carbatti, que assina a dramaturgia com Mônica Santana, a montagem com direção de Inez Viana e Isabel Cavalcanti foi aclamada por público e crítica em diversos estados do Brasil, trazendo na bagagem indicações a prêmios.

Tendo como ponto de partida o dilema de uma mãe preta ao falar sobre o racismo com o filho, em cena a atriz se multiplica em muitas vozes para trazer ao palco reflexões sobre os códigos racistas já implícitos em nossa sociedade, bem como seus impasses, impactos e possíveis propostas de reparação.

Ana Carbatti é a idealizadora do espetáculo /Foto: Lídia Ueda – Divulgação

É lindo e muito emocionante retornar ao Rio, é como voltar para casa! Este projeto nasceu de reflexões muito pessoais, e foi construído com uma equipe que se tornou uma família. Como uma aldeia. E todo mundo sabe como é difícil manter um espetáculo teatral no nosso país. A resposta do público e da mídia que recebemos até hoje é um privilégio. E a gente não para de fazer novos planos pra peça, que se realimenta a cada temporada, a cada teatro que a gente visita, em cada cidade munida de suas peculiaridades, porque ele se realiza com a presença do público, mesmo. Estou com uma expectativa muito positiva pra essa temporada”, entusiasma-se Ana, indicada ao Prêmio Shell e Prêmio APTR por sua performance.

A peça começa quando a personagem acorda de um pesadelo onde ocorre o desaparecimento do menino. A partir daí, começa a questionar sua própria existência e sua função na sociedade, como mulher e mãe. Em uma conversa íntima com o público, ela discorre sobre suas principais angústias, medos e esperanças, falando através de todos os seus sentidos.

Usando o humor, a peça provoca engajamento e empatia e procura conscientizar o público da dívida histórica que se tem para com a população preta e a necessidade de reparação, combatendo ainda o racismo estrutural. Para a diretora Isabel Cavalcanti, é urgente falar sobre o racismo no Brasil e sobre a violência sofrida pelas pessoas pretas, que compõem a maioria da população do Brasil – primeiro país do mundo com maior população preta fora do continente africano.

É fundamental repensar a história brasileira e promover esse debate no teatro, onde ainda é possível estabelecer um diálogo amoroso”, declara Isabel. “Como artista e como mulher negra em plena atividade eu fico muito contente de estar, de alguma forma, contribuindo para a construção de uma sociedade inclusiva. O Mês da Consciência Negra é um espaço pra se lembrar do quanto esse país precisou da presença negra para se constituir. Enquanto eu puder e enquanto me for dado espaço, eu quero estar ali, no palco, sendo motor dessa lembrança”, complementa Ana Carbatti.

Imbuída do intuito de partilhar as descobertas da cena e partindo de um objeto não dramático, a atriz oferece a oficina de teatro gratuita “Meu corpo: ação e emoção teatral” no dia 07 de dezembro, das 14h30 às 18h30, no próprio teatro onde se apresenta com a peça.

A atriz e idealizadora reitera, contudo, que a intenção da montagem nunca foi constranger ninguém. “O barato é que o espetáculo fala pra todo mundo. Algumas pessoas não negras me dizem que se sentem envergonhadas. Eu não faço esse espetáculo pra isso, lógico que não! Mas eu entendo que essa sensação ajuda a se colocar numa posição que vai além da contemplação, além da resignação. E é disso que nós precisamos para mudar o caminho. As pessoas pretas veem suas histórias repetidas ali, se sentem acolhidas, representadas, e encontram espaço de expressão. Já as brancas abrem suas escutas e reconhecem seus lugares de privilégio, se fazem perguntas que nunca haviam feito antes. Então, eu fico com a impressão que a sociedade, como um todo se sente, contemplada”, comemora Ana.

Além de 10 cidades no estado do Rio de Janeiro, a montagem já passou por Belo Horizonte (MG), Passo Fundo (RS), Porto Alegre (RS), São Paulo (SP), Curitiba (PR), Fortaleza (CE) e Salvador (BA). “O espetáculo mantém sua estrutura original, mas ele tem essa coisa linda que só o teatro carrega de acontecer no momento presente, na presença da relação entre ator e público. Então, sinto que a peça muda sempre, porque a resposta e a interação do público é 50% do que faz desse espetáculo o acontecimento que ele é”, finaliza Ana Carbatti.

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