Por: Jéssica Silva de Oliveira
Advogada Civilista
Segundo o presidente do Federal Reserve de Dallas (uma espécie de banco central norte americano), Robert Kaplan, o racismo sistêmico e os altos níveis de desemprego são verdadeiros obstáculos para o crescimento econômico dos EUA, já que a disparidade de desenvolvimento entre negros e hispânicos importa no crescimento mais lento da economia estadunidense.
Recentemente, o economista Raphael Bostic, escreveu um ensaio intitulado “A Moral and Economic Imperative to End Racism” (em tradução livre: Um imperativo moral e econômico para acabar com o racismo.), onde ele aponta os impactos econômicos do racismo. Bostic é o primeiro presidente negro e gay do Federal Reserve de Atlanta, após mais de 100 anos de existência da instituição, tendo assumido o cargo há apenas 3 anos.
Antes mesmo da instituição responsável pela supervisão do sistema bancário e pelo controle da política monetária aplicada no país que detém a maior economia do planeta (EUA) assumir que o racismo retarda o crescimento econômico de uma nação, o mundo empresarial já havia entendido que o investimento em diversidade gera maior rentabilidade.
Estudos comprovam que políticas de diversidade racial ou de gênero tornam as empresas mais competitivas, inovadoras e tecnológicas. Conforme relatório Diversity Matters, da organização McKinsey & Company, as empresas que investem em diversidade de gênero em suas equipes aumentam o lucro em até 15%, enquanto aquelas que investem em diversidade étnica aumentam em média 35% do seus lucros.
O comprometimento com a promoção de equidade étnico-racial é uma decisão determinante para um melhor desenvolvimento social e econômico em todo o mundo, podendo a iniciativa privada, através da adoção de ações afirmativas, exercer um papel fundamental na construção de uma sociedade mais justa, plural, democrática e inclusiva, onde todos os sujeitos recebam de fato um tratamento igualitário.
Contudo, mais importante que o combate à reprodução, no setor privado, do racismo sistêmico que constitui a política e a economia do Estado, é o combate à institucionalização das desigualdades raciais pelo poder público, o que mudaria completamente as regras do jogo. Prova dessa institucionalização das desigualdades, no Brasil, é a atuação de um deputado federal que ingressou com uma representação junto ao Ministério Público, para apurar suposto crime de racismo praticado por uma rede varejista, ao adotar uma política afirmativa em seu programa de trainee, baseada em princípios constitucionais e no Estatuto da Igualdade Racial.
Se um deputado federal que, em seu exercício parlamentar como representante do povo, tem como atribuições principais legislar (propor, discutir e aprovar leis) e fiscalizar (fiscalização das ações do Poder Executivo), não consegue (ou não quer) compreender a necessidade da implementação de medidas desiguais que viabilizem a efetivação do princípio constitucional da igualdade material a indivíduos sub-representados, o racismo sistêmico ainda será um fator determinante para a mantença do desequilíbrio das relações socioeconômicas entre negros e brancos, afetando, consequentemente, o desenvolvimento do país.