“Entre: Bombas, Balas, Confetes e Serpentinas”: espetáculo com atores da Maré, chega aos palcos do Rio

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O espetáculo “Entre: Bombas, Balas, Confetes e Serpentinas”, escrito por Matheus Frazão, arte-educador do projeto, será apresentado no Teatro Museu da Maré, nos dias 05, 06, 07, 12, 13 e 14 de dezembro deste ano,  às 19:30 nesta que já é a 13ª edição da oficina de formação cultural. 

A montagem teatral, baseada na obra de Gizele Martins, “Militarização e Censura – a luta por liberdade de expressão na Favela da Maré”, jornalista e documentarista premiada, que juntamente com Natasha, levou prêmio de melhor documentário com a produção “Cheiro de Diesel” no Festival do Rio 2025, ao levar para o audiovisual o registro sobre o impacto da militarização na vida dos moradores das favelas da Maré e da Penha, na zona norte do Rio, com enredo que mergulha na história de resistência e silenciamento vivido pelos moradores da Maré, um dos maiores complexos de favelas da cidade do Rio de Janeiro. 

Foto: Marcos Brendon

O Espetáculo “Entre: Bombas, Balas, Confetes e Serpentinas”, escrito e adaptado por Matheus Frazão, nascido e criado na Maré, reforça o contexto do trabalho de Gizele, levando para o palco a visão dos que tiveram a liberdade de expressão brutalmente silenciada pelo Estado, e que, através de processos de militarização e censura, apagou as vozes da comunidade, especialmente daqueles que ousaram denunciar as violências sistemáticas das forças de segurança. Uma mácula social de apagamento de vozes e forças comunitárias.   

“Entre Lugares”… A potência das falas da Maré

Todo ano, são executadas, ao todo, pelo menos 5 oficinas artísticas, técnicas e de capacitação, junto às aulas fixas regulares de teatro, que acontecem no Museu da Maré, na zona Norte do Rio. As oficinas são: Pesquisa de Campo/ Leitura-Escrita, Restauro de Figurino, Corpo-Movimento, Cenografia e Montagem Teatral, com vagas destinadas para 30 jovens e adultos, entre 14 e 50 anos, moradores do Complexo da Maré. 

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A Escola Livre de Artes Entre Lugares Maré conta com o apoio do Governo Federal, Ministério da Cultura, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, através da Política Nacional Aldir Blanc,da Lei ISS/LAMSA, Museu da Maré, Especiais da Maré e Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM).

A encenação se materializa numa experiência imersiva que dissolve o palco e permeia o espaço, numa associação direta com a geografia da Maré. O cenário, que incorporou sugestões de ideias dos intérpretes, funde passado, presente e futuro para expor o ciclo ininterrupto da repressão militar que utiliza os mesmos mecanismos de tortura e genocídio (64, 2014, 2025, este útimo tão brutal quanto o s anteriores mas com a exposição da força do estado numa ação politizada e que afeta a Comunidades, os civis de maneira irreparável) para impor uma “ordem nacional” inacreditavelmente celebrada por adeptos que se tornam algozes.

O espetáculo é dinâmico e desafiador, abrindo espaço para que as vozes da Favela da Maré e tantas outras silenciadas pelo sistema racista falem. A força da peça reside na propriedade da vivência de seus protagonistas: moradores e comunicadores, que transformam o trauma de censura e massacre em um grito urgente no palco. É um trabalho que provoca o público a confrontar a permanência da violência do poder, tendo a luta e a resistência como seu motor central. Renata Tavares.

Sinopse de “Entre: Bombas, Balas, Confetes e Serpentinas”

A Maré foi invadida e agora está sob comando dos militares, com a Copa do Mundo na cidade, os moradores enfrentam a censura e o medo cotidiano por parte das forças militares. Em toda essa guerra, o samba é o pulmão dos moradores para continuar a resistir na favela da Maré.

Dramaturgia que nasce das dores de quem vive a realidade

Matheus Frazão, diretor e artista de performance local, arte-educador, cria da Maré e autor do texto que será encenado na montagem deste ano, dentro do projeto “Entre”, revela que a peça tem muito da sua vivência e dos seus na busca por oportunidades reais de emergir socialmente pela formação educacional e cultural e na estigmatização dos povos das Comunidades, sempre sendo postos à margem da sociedade:

“Eu sou o Frazão, um cara que iniciou muito jovem na arte, se profissionalizou nela e enxerga no teatro um canal de comunicação muito potente. Os espetáculos do Entre, sempre trazem narrativas já vividas no território, por vezes dolorosas. É sobre o que incomoda, porque ainda dói na gente. A peça deste ano retrata as violências ocorridas no período da ocupação militar de 2014 na Maré, todavia, traz uma família que se diverte, que é do samba… É a alegria confrontando a violência. Talvez ela seja a nossa melhor arma. Uma obra do cotidiano, da intimidade, dos carnavais e desesperos que é a vida na favela”, fala Matheus.

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