Seis em cada dez empreendedoras negras da Região Metropolitana de São Paulo vivem com até um salário mínimo de rendimento mensal. Apenas 5% conseguem ultrapassar a faixa de quatro salários mínimos. Os dados fazem parte de levantamento inédito do Instituto Locomotiva em parceria com a QuestionPro, que revela tanto a força desse grupo quanto a vulnerabilidade estrutural de seus negócios.
Ao todo, são 473,4 mil mulheres negras empreendendo na região, mas enfrentando desigualdades que combinam raça, gênero e classe. A pesquisa mostra que entre mulheres brancas, 33% estão na base da pirâmide de renda e 16% superam os quatro salários mínimos. Entre homens brancos, apenas 22% sobrevivem com até um salário mínimo.

“Estamos diante de uma realidade que escancara como raça e gênero continuam determinando as oportunidades no Brasil. Valorizar e apoiar as empreendedoras negras significa não só combater desigualdades históricas, mas também apostar em um motor de inovação e desenvolvimento para o país”, afirma Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva.
O estudo revela que oito em cada dez empreendedoras negras trabalham sozinhas. Apenas 13% contam com ajuda de outras pessoas e 9% empregam formalmente. A formalização também é limitada: apenas 27% possuem CNPJ, contra 45% das mulheres brancas e 43% dos homens brancos. Mais da metade (55%) não tem espaço físico para os negócios, realidade inversa à de empreendedores brancos, que em maioria possuem estabelecimentos próprios.
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Escolarização e capacitação
A busca por conhecimento ainda é desigual. Apenas 23% buscaram se especializar antes de abrir o negócio, 42% aprenderam no processo e 34% admitem não dominar a área em que atuam. Só um terço fez cursos relacionados ao negócio no último ano. Para se atualizar, 53% recorrem a estratégias como acompanhar perfis em redes sociais (38%), trocar ideias com outros empreendedores (25%) e assistir a vídeos no YouTube (21%).
Redes sociais como vitrine
O digital é ferramenta central para essas mulheres. Cerca de 86% utilizam aplicativos de mensagens para vender ou divulgar produtos e serviços, 74% recorrem às redes sociais e 21% usam sites especializados. No campo offline, 50% já criaram logomarca e 64% trabalham com um nome específico e conhecido para seus negócios.
Fragilidade financeira
Apesar do otimismo em relação ao futuro — sete em cada dez pretendem expandir seus negócios — a sustentabilidade financeira ainda é frágil. Apenas 41% afirmam que o faturamento cobre custos todos os meses, e para 59% isso acontece apenas em alguns períodos. Quando o lucro é destinado às despesas pessoais, 35% consideram suficiente, mas só 9% conseguem poupar mensalmente.
A separação entre as finanças pessoais e do negócio também é problemática. Embora 56% tentem manter essa divisão, só 41% conseguem sempre. Questionadas sobre estabilidade financeira, 29% associam ao acúmulo de reserva, 37% à ausência de dívidas e 34% ao controle dos gastos cotidianos. Caso não pudessem trabalhar, 18% afirmam que não resistiriam nem um mês; apenas 12% conseguiriam se manter por seis meses ou mais.
Caminhos apontados
As empreendedoras ouvidas destacaram soluções prioritárias para transformar desafios em oportunidades: criação de aplicativos de gestão, consultorias especializadas, redes de apoio para cuidados infantis, programas de capacitação continuada e linhas de crédito adaptadas às suas realidades.
A pesquisa foi realizada entre 9 e 22 de abril de 2024, com 500 entrevistas presenciais, margem de erro de 4,4 pontos percentuais e recorte de mulheres com ensino médio completo e renda mínima de um salário.