Depois que um adolescente de apenas 13 anos foi morto na madrugada de segunda-feira (07) na Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, o tio da vítima, Hamilton Menezes, falou com a imprensa na porta do Instituto Médico Legal (IML) sobre o que aconteceu quando Thiago Menezes, que sonhava em seguir a carreira de jogador de futebol, foi assassinado.
De acordo com o tio, e relatos de testemunhas, o menino andava de moto com um amigo quando foi atingido por tiros disparados por policiais. “Thiaguinho estava passeando de moto com um amigo, saindo da Cidade de Deus foi abordado já a tiros. Com isso um tiro pegou na perna, ele caiu, ai a gente tem um trechinho da imagem dele no chão ainda vivo e o policial terminando de executar ele. Ele foi executado“, disse Hamilton
Já a mãe da da vítima, rebateu as informações de que Thiago era envolvido com o tráfico. “Ele não estava armado, ele não era traficante“, disse em entrevista em frente ao IML.
Familiares e moradores contam que não havia operação no momento que o menino foi morto, e também acusam a PM de tentar adulterar a cena do crime, tentando por exemplo remover o corpo do menino, do local. O tio do adolescente também falou sobre uma possível intervenção nas imagens das câmeras de segurança.
“Hoje em dia as câmeras tem internet, bluetooth e essas coisas. E eles conseguiram com o celular ter acesso e apagar só a parte da execução. Mas a gente tem 1 minuto antes, e um pouco depois também, e dá pra ver um pedaço do corpo do PM executando ele no chão, com um tiro no peito“, diz o tio sobre as câmeras de segurança de um estabelecimento que fica em frente ao local do crime. Segundo ele, as imagens foram entregues à família pelo proprietário do local, já com as imagens cortadas.
Hamilton afirma ter visto os agentes mexendo nas câmeras, e também afirmou que os policiais simularam um tiroteio. “Eles forjaram um tiroteio dando tiro para um mato de frente, por nada. Para plantar alguma coisa no local do crime“, diz ele.
Nenhum dos agentes usavam as câmeras corporais nos uniformes, no momento. Com a morte de Thiago, desde o início do ano, o Instituto Fogo Cruzado já registrou 47 adolescentes e crianças baleados em 2023, sendo que 21 morreram.
Em entrevista, o tio do menino afirmou que o sonho de se tornar jogador de futebol, junto da eescola, era o que fazia parte da rotina do adolescente. Em entrevista, a tia do menino falou sobre como ele era.
“Um menino muito tranquilo, hoje a escola já ligou para dizer que sente muito e que está todo mundo triste na escola, é um cara muito família, uma criança muito amorosa, sempre com um sorriso no rosto e sem contar que era nossa estrela do futebol né?“, descreve Nathaly Bezerra Flausino, que lamentou a morte de Thiago.
“Uma criança de apenas 13 anos de idade que foi brutalmente assassinada pela polícia, pelo Estado e pelo governo“, diz a tia.
Em nota a PM, que antes havia dito nas redes sociais que um criminoso havia ficado ferido em confronto com a polícia na Cidade de Deus com uma arma apreendida, disse em nota enviada ao G1 que “dois homens em uma motocicleta atiraram contra a guarnição” e que depois, “um adolescente foi encontrado atingido e não resistiu aos ferimentos”, afirmou.
Jovem morto ao sair de baile funk
Um jovem de 26 anos, Guilherme Lucas Martins Matias, foi morto a tiros na madrugada do último domingo (06) depois de sair de um baile funk no Morro do Santo Amaro, na Zona Sul do Rio. O rapaz que estava em um carro com outros três amigos, foi baleado por policiais militares.
Quem estava dentro do carro afirmou que os tiros foram dados sem que os policiais tivessem pedido para o carro parar. Mas segundo um PM envolvido, em depoimento, o carro que estava na contra-mão não obedeceu a ordem para parar, e que um dos jovens exibiu uma arma, e por isso atiraram contra eles.
Guilherme Lucas, que segundo a família era frentista, morreu no Hospital Souza Aguiar, no Centro do Rio. Outros dois dos jovens – Paulo Rhodney do Nascimento de Jesus e Mateus Coutinho Martins da Silva – ficaram feridos e foram levados para o mesmo hospital. Paulo já teve alta, e Matheus continua internado com o quadro de saúde estável.
A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informou que já foi determinado que o caso seja apurado internamente para averiguar as circunstâncias do caso. Os agentes que estavam usando as câmeras corporais, já foram ouvidos na 5ªDP e as câmeras foram recolhidas. A 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (1ª DPJM) acompanha o caso.
Depois do jovem ser morto, moradores do Morro da Coroa realizaram um protesto na tarde de domingo e chegaram a interromper o tráfego do Túnel Santa Bárbara, no Centro.
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