Debandada é um espetáculo que traz ao debate a exclusão da sociedade contemporânea e como a vida urbana, não permitindo interagir com o espaço onde a população circula em grande parte do dia e da noite. A montagem estreia no próximo dia 28 de abril, em espaços do Sesc no Rio e na Baixada Fluminense e, na visão do Coletivo DeBonde, não há como descolar a exclusão atemporal sem mencionar a relação dos diferentes grupos sociais com os espaços urbanos.
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Sendo assim, o projeto busca a pausa como uma brecha de contraposição a pressa, para exaltar a importância da relação com a rua para além do lugar de travessia, mas sobretudo de atravessamentos, encontros, esbarrões, afetos, permanências, movimento e vida.
Formado por Amanda Gouveia, Dandara Patroclo, Luana Bezerra, Salasar Junior, Tais Almeida e Wagner Cria, o DeBonde tem como objetivo aproximar a dança do público, dando visibilidade e mais acesso à arte aos seus territórios de origem, que são, em sua grande maioria, áreas periféricas.
“Além de nós, carregamos um bonde de outros profissionais da arte de diversas periferias do Rio de Janeiro e percebemos isso como uma debandada também, um fortalecimento de uma rede. É importante para nós nomear os profissionais que estão conosco, dar voz. E que nós estamos nesse lugar também de idealizadores e pensadores do projeto”, afirmam os artistas.
Kirce Lima, diretora de produção da Debandada, ressalta que o espetáculo dialoga com a missão de estar conectado, de estar sempre falando com o povo, com as pessoas periféricas. “Para se ter um projeto que tem uma intervenção urbana dentro do seu cotidiano, que é tão corrido, tão pesado, às vezes você se deparar com uma performance que pode, naquele momento te levar para outro lugar, te trazer uma reflexão, um sentimento, isso conecta cada vez mais a produtora Elabore com os artistas e proponentes”, analisa.
Contemplado no Edital Sesc RJ Pulsar Corpo Negro e produzido pela eLabore.kom, Debandada já realizou apresentações e oficinas em espaços públicos e aparelhos culturais da prefeitura na Zona Norte, Oeste e Centro do RJ. “A proposta atua nas frentes performática, pedagógica e colaborativa, contando com apresentações e residência artística, oficinas para alunos surdos da rede pública de ensino, rodas de conversas e articulação local para cada município apontado”, explica Dandara Patroclo.
DIVERSIDADE
A proposta pauta a sociedade que ainda carrega dogmas e vestígios de um patriarcado eurocêntrico e escravista, que teve em sua estruturação imposições como a “Lei de Vadiagem”, que impedia que pessoas pretas circulassem e manifestassem sua arte livremente pela cidade, e outras leis que impediram pessoas negras de irem à escola ou possuir terras.
“Isso fica nítido quando constatado que a maioria das pessoas que sofrem com ataques violentos, mortas em chacinas, são pessoas pretas e LGBTQIAP+. O que reforça o estigma de que a rua é um lugar perigoso e que não deve ser ocupada, sobretudo para esses grupos”, reforça Dandara.
Uma das ações do Debandada é possibilitar novos olhares para a cidade e sua arquitetura, que tenham como premissa visões antirracistas e que lutem contra a LGBTfobia. O projeto tem em seu acervo a capacidade técnica e corporeidades que perpassam pelo Carnaval de Rua, Samba, Danças Urbanas, o Passinho, o Funk, o Jongo, a Capoeira e o Coco, linguagens que salientam a grande participação da população negra na construção das manifestações culturais do país.
“O projeto Debandada emerge como um espetáculo de rara beleza e significado, trazendo a dança contemporânea para o pulsar das ruas. Jovens bailarinos, dotados de uma plasticidade estonteante, transformam cada esquina e praça em palcos vivos, onde o concreto urbano se torna cenário para movimentos que desafiam a gravidade e encantam os passantes”, pontua Fábio França, coordenador de produção do espetáculo.
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O projeto Debandada é formado majoritariamente por pessoas pretas, LGBTQIAP+ e periféricas, assim como nos papéis de idealização do projeto e decisão, gerando um movimento de representatividade e protagonismo, buscando o empoderamento e a emancipação desses grupos.
“A cultura de rua é uma atividade de pessoas pretas e o Debandada não poderia ser diferente. Não há como falar de pluralidade cultural sem pensar nos corpos e corpas pretas dançando, bailando, levando cultura e entretenimento. O espetáculo quem faz é a rua”, finaliza Dandara.
SERVIÇOS:
Espetáculo Debandada
28 de abril – Sesc Copacabana – R. Domingos Ferreira, 160 – Copacabana, Rio de Janeiro – Calçadão de copacabana, às 16h
15 de maio – Biblioteca Municipal Raul de Leoni – R. Gen. Oswaldo Pinto da Veiga – Vila Santa Cecília, Volta Redonda, às 18h
16 de maio – Sesc Quitandinha – Rua 16 de Março – Petrópolis, às 17h
22 de maio – Av. Alberto Braune, próximo à praça Demerval Barbosa Moreira, Nova Friburgo, às 14h