Congresso Nacional Africano tentará formar coalizão na África do Sul após perder maioria absoluta

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O presidente sul-africano Cyril Ramaphosa (à esquerda), John Steenhuisen da Aliança Democrática (centro) e o líder dos Combatentes pela Liberdade Econômica Julius Malema (à direita) - AFP/Arquivos

Fonte: AFP

O Congresso Nacional Africano (ANC), no poder na África do Sul há três décadas, declarou neste domingo (02) que entrará em negociações com outros partidos para formar um novo governo, depois de perder pela primeira vez a maioria absoluta no Parlamento.

Com 99,91% dos votos apurados, o ANC, liderado pelo atual presidente Cyril Ramaphosa, obteve apenas 40,2% dos votos nas eleições legislativas de quarta-feira, uma queda considerável face aos 57,5% de 2019.

Este é o pior resultado para o partido que chegou ao poder em 1994 com o líder emblemático da luta contra a segregação racial do apartheid, Nelson Mandela, e que governa com maioria absoluta desde então.

“O ANC está empenhado em formar um governo que reflita a vontade do povo, que seja estável e capaz de governar eficazmente”, disse o secretário-geral do partido, Fikile Mbalula, em coletiva de imprensa.

O partido deve negociar um governo de coalizão ou pelo menos convencer outros partidos a apoiar a reeleição de Ramaphosa no Parlamento para lhe permitir formar um governo em minoria.

Mbabula indicou que as discussões seriam realizadas internamente e com outros grupos “nos próximos dias”. Os resultados finais serão anunciados oficialmente no domingo.

ÁFRICA DO SUL
O presidente sul-africano Cyril Ramaphosa (à esquerda), John Steenhuisen da Aliança Democrática (centro) e o líder dos Combatentes pela Liberdade Econômica Julius Malema (à direita) – AFP/Arquivos

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A Aliança Democrática (DA), cuja agenda neoliberal se opõe às tradições de esquerda do ANC, ficou em segundo lugar com 21,78% dos votos.

Helen Zille, membro do comitê diretor da DA, afirmou que todas as opções estavam sobre a mesa, incluindo permitir que o ANC governasse sozinho, em minoria.

Foi seguida, com 14,59%, pelo partido Umkhonto We Sizwe (MK), criado há apenas seis meses pelo ex-chefe do ANC e ex-presidente Jacob Zuma, que foi a grande surpresa destas eleições.

Em quarto lugar ficaram os Lutadores pela Liberdade Econômica (EFF), de esquerda radical, de Julius Malema, ex-militante do ANC, com 9,51%.

Alguns observadores sugeriram que, como ex-membros do ANC, Malema e Zuma seriam parceiros naturais da coalizão governante.

No entanto, outros analistas consideram que as suas exigências seriam difíceis de satisfazer e não veem como fácil uma reaproximação entre Ramaphosa e Zuma, que teve que renunciar à Presidência em 2018 devido a acusações de corrupção.

O MK afirmou que não negociará com o ANC enquanto Ramaphosa for o seu líder.

“Nenhum partido político nos imporá tais condições”, respondeu Mbalula.

O ANC mantém a lealdade de muitos eleitores pelo seu papel de liderança na derrubada do regime de segregação.

No entanto, alguns altos funcionários do partido foram envolvidos em escândalos de corrupção, à medida que a economia mais industrializada do continente definhava e os números da criminalidade e do desemprego atingiam máximos históricos.

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