Comunidades indígenas alertam para risco de colapso no rio Alalaú

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Os Waimiri-Atroari vivem hoje sob ameaça direta de contaminação de sua principal fonte de sobrevivência: o rio Alalaú, em Presidente Figueiredo (AM), próximo à divisa com Roraima. Líderes e moradores relatam espuma, mau cheiro, peixes mortos e até casos de crianças que passaram mal após contato com a água. Notícia dada em primeira mão pela Comissão Pastoral da Terra (CPT).

O cenário levou à suspensão imediata da pesca, da caça e até do uso cotidiano do rio, que abastece 22 aldeias. Mais do que um recurso natural, o Alalaú é considerado vital para a alimentação, a cultura e a vida do povo indígena. Relatórios preliminares identificaram mercúrio em níveis elevados, reforçando o temor de impactos de longo prazo sobre a saúde e o meio ambiente.

Mineradora sob suspeita
A empresa Taboca, responsável pelo Complexo Mineral do Pitinga e hoje controlada pela estatal chinesa CNMC (China Nonferrous Mining Metal Company), é vista pelas comunidades como a principal responsável pela poluição. A disputa, no entanto, não é recente: há cerca de 40 anos os indígenas acusam a mineradora de invadir suas terras e degradar o rio.

O Observatório da Mineração aponta que a área explorada pela Taboca é território de ocupação tradicional dos Waimiri-Atroari, mas foi excluída do processo de demarcação na década de 1980 devido a pressões empresariais.

Ações do Ministério Público
Em 2021, quando a Taboca ainda pertencia ao grupo peruano Minsur, o Ministério Público Federal (MPF) do Amazonas determinou que fossem interrompidos os lançamentos de rejeitos em barragens da mineradora. O órgão também apontava, à época, que já havia ocorrido vazamentos que atingiram igarapés e rios dentro da terra indígena.

Mais do que um recurso natural, o Alalaú é considerado vital para a alimentação, a cultura e a vida do povo indígena – Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil.

Defesa da empresa
A mineradora, por sua vez, nega responsabilidade. Ao Observatório da Mineração, afirmou que “as barragens não estão com vazamentos e que os rios não foram contaminados por responsabilidade da mineradora. Segundo a Taboca, a alteração da qualidade da água se dá exclusivamente pelo excesso de chuvas registrado na região”.

Denúncias históricas
As acusações contra a Taboca vêm de longa data. O indigenista Egydio Schwade, fundador do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), recorda: “Desde 1979 venho denunciando esta prática da empresa Taboca, de invasão sorrateira do território Waimiri-Atroari. E em particular, a poluição do Alalaú e seus afluentes da margem esquerda”.

Schwade lembrou que entre 1987 e 1993 as denúncias de rompimentos de barragens se tornaram frequentes. O primeiro acidente, em 1987, teve grande repercussão nacional. “Uma das represas de contenção que representa perigo de poluição grave tem uma extensão significativamente maior do que a de Brumadinho, em Minas Gerais. Caso um dia se romper, trará gravíssimas consequências. E com agravantes sobre o caso Brumadinho, pois os rejeitos do Pitinga contém produtos radiativos”, alertou.

Cobrança por providências
Diante da gravidade, os Waimiri-Atroari exigem investigações urgentes, punição aos responsáveis e medidas de recuperação do rio. Para o povo indígena, proteger o Alalaú é proteger sua própria existência, a saúde das comunidades e a continuidade de sua cultura.

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Thayan Mina

Thayan Mina

Thayan Mina, graduando em jornalismo pela UERJ, é músico e sambista.

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