O evento AMOçambique, que ocorreu no dia do trabalhador, contou com atividades nos espaços Ação da Cidadania e Circo Voador, no Rio de Janeiro
Mestranda em relações étnico-raciais, Maria Amália, fundadora do Coletivo Pretaria, conta que sua motivação principal para a realização do evento foi o nível de fragilidade dos atingidos pelo ciclone. A profissional afirma que amigos próximos, vindos de África, narraram o desespero da população assolada pelos ciclones Idai e Kenneth, ocorridos há menos de dois meses em países do continente africano.
Após receber uma enxurrada de histórias caóticas- e a pouca ajuda se comparada a tragédias na Europa- Maria Amália decidiu criar um evento, desvinculado aos governos brasileiro e moçambicano, que reunisse empreendedores africanos e músicos da cultura afro-brasileira.
“Na Igreja Notre Dame, na França, milhões em recursos financeiros foram doados. Em Moçambique aconteceu um desastre natural e ninguém deu importância”, disse.
Foi nessa perspectiva que a pesquisadora contactou a Cáritas, entidade que promove ações em prol dos direitos humanos e propôs o evento, mas sem intervenção governamental, em virtude dos inúmeros casos de desvio de verba.
Após a firmação de parceria, o Coletivo Pretaria entrou em contato com os responsáveis pelo espaço Ação da Cidadania, a fim de promover um evento que reunisse empreendedores imigrantes e oficinas artísticas, durante a tarde do feriado do Dia do Trabalhador. Dentre o grupo de microempreendedores, Latifah, natural da Nigéria, apresentou o arroz Jollof, prato típico do país, que custava em torno de quinze reais e, como sobremesa, a cozinheira serviu bolinhos de chuva, cujo preço era um real a unidade.
Além da culinária, o evento abrigou outras formas de empreendedorismo. Nyimpini Khosa, natural de Moçambique, expôs seus artesanatos feitos em tecido moçambicano, estampa que representa a identidade da mulher do território. Além de ajudar seus irmãos em África, a ideia do artesão era mostrar, através da arte, a cultura e intelectualidade dos povos moçambicanos, já que o continente, considerado o 3º maior do mundo, é atravessado por mais de mil idiomas.
Durante a noite, o evento reuniu o Grupo Abayomi, Baco Exu do Blues, Pretinho da Serrinha, Teresa Cristina, Maíra Freitas e BNegão Bota Som, no Circo Voador.
Os shows, realizados de maneira voluntária pelos artistas, tiveram os preços dos ingressos revertidos em doação para as vítimas dos ciclones.
Além dos eventos, o Coletivo Pretaria, em parceria com a Cáritas, Aúdio Rebel e Ação da Cidadania, abriu a possibilidade de doações através da benfeitoria.
Maria Amália ratificou que a maior preocupação se dava pela burocracia governamental, por conta das inúmeras formas de corrupção, o que pode comprometer o recebimento do dinheiro levantado.
Pensando nisso, a Cáritas ofereceu a conta da instituição para evitar intervenções governamentais durante a transferência de verba. Assim, a quantia é repassada a ONGs responsáveis pela ajuda humanitária, o que impede desvios.
Embora o cenário seja de caos econômico e social, Maria Amália reafirma a importância do fortalecimento entre a comunidade negra, já que a dor, perante a sociedade, é seletiva: “Mesmo em situações adversas, conseguimos estreitar nossos laços. Nós demos início à relação que será duradoura”, concluiu.
Endereço da Benfeitoria: https://benfeitoria.com/amocambique
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