400 alunos de seis escolas da rede pública de ensino de Belo Horizonte (MG) vão assistir o filme Pantera Negra 2.0, gratuitamente, na próxima segunda-feira (14), em um cinema da região Central da capital mineira. A iniciativa é do Coletivo Casa das Pretas, que realizou uma vaquinha virtual para a sessão de cinema com os jovens.
O objetivo inicial era contemplar 100 crianças e adolescentes, mas, segundo Luísa Helena, advogada, doula, ativista social e uma das co-fundadoras da Casa das Pretas, a ideia surgiu e várias pessoas aderiram ao projeto.
“Eu tive essa ideia e a galera abraçou na hora. Fizemos por meio de VAKINHA e recebemos só doações de pessoas físicas, muita gente compartilhando e ajudando. Batemos a meta no início da semana e conseguimos fechar duas salas de cinema, com pipoca, refrigerante e transporte para os adolescentes”, conta.
Ela lembra ainda que algumas pessoas foram fundamentais para a realização tanto da vaquinha virtual quanto da ida dos jovens ao cinema. “Pedimos ajuda para o Marcelo Cohen, presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB/MG e ele ajudou. Montamos um time bom pra essa organização ser mais completa”, explica.
Luísa lembra também que o filme conta uma história de protagonismo negro e de identidade, importantes para a formação da consciência de crianças e adolescentes negros. “A lição do filme diz sobre a humanização das pessoas negras, sobre o respeito aos nossos ancestrais (tanto os que já se foram e também aqueles que ainda estão vivos)”, afirma.
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“O filme traz a ideia de abundância, de grandiosidade tanto espiritual quanto material em ser uma pessoa negra/indígena. A importância é estimular no imaginário dos adolescentes a sensação de pertencimento, de que o mundo é deles, eles podem tudo, de que ser negro/indígena é bom. Queremos que os jovens sintam-se super heróis da própria história de vida e que vejam as maravilhas de ser quem são”, completa.
Cultura negra
Wakanda é um país fictício localizado na África subsaariana, presente nas histórias em quadrinhos publicadas pela Marvel Comics, mas Luísa ressalta que a nação imaginária pode ser construída diariamente nas “quebradas” brasileiras.
“Esse movimento de fomento da cultura negra é uma prova de que acreditamos que podemos construir Wakanda em nossas comunidades. Podemos cuidar de nós, podemos ajudar os nossos e devolver ao nosso povo aquilo que já conquistamos. Isso porque sabemos que a cultura alimenta a alma, faz parte do mínimo essencial, aquilo que é necessidade para a construção do ser humano”, reflete.
Para Izaú Veras Gomes, professor de educação física da Escola Municipal Pedro Aleixo, é um dos que apoiaram e acompanharão os adolescentes na sessão e lembra também que é de suma importância apresentar a cultura para os jovens negros, para a formação de caráter e autoestima.
“O filme traz a valorização da autoestima da criança e quando falo autoestima, não está ligado apenas à estética, mas às subjetividades dessa criança. Toda criança negra cresce bombardeada pelo colonialismo, com essa ideia de que a gente não produz cultura de valor, que não temos mérito social”, enfatiza.
O lazer é um direito constitucional e o cinema é uma das formas de se apresentar o lazer para crianças e adolescentes. Ele se torna um direito fundamental para todo ser humano e Izaú ressalta esta importância para a formação social das crianças e adolescentes negros.
“Muitas pessoas se incomodam quando veem ações como essas. ‘Ah, porque crianças negras? Fico pensando se essa pessoa teve uma outra condição material de vida, por que ela deseja que outras crianças negras passam por isso, né? Algumas pessoas almejam que crianças negras têm que passar as mesmas coisas que crianças brancas, ricas, que moram em outras localidades, que não a periferia. Sempre vai ter alguém para questionar, mesmo não sendo políticas públicas, mas iniciativa do movimento negro”, analisa.
“A perspectiva de médio o longo prazos é que, cada vez mais, a gente tenha uma juventude que valorize seu passado, quem veio antes, abrindo caminhos, para que possamos continuar inspirando e abrindo caminhos para quem chega”, completa.
Sobre a Casa das Pretas
Fundada por Zaira Pereira, Cristina Tadielo e Luísa Helena, três advogadas negras de idades distintas, a Casa das Pretas é um coworking formado por profissionais da saúde negras que desenvolvem serviços de letramento racial e cuidado com as populações negra e indígena.