O quatro vezes campeão olímpico Mo Farah revelou que seu verdadeiro nome é Hussein Abdi Kahin, identidade que perdeu entre os oito e nove anos de idade quando foi sequestrado da Somália por uma mulher e levado a Djibuti, país na África Oriental. O atleta conta que foi obrigado a realizar serviços domésticos e cuidar dos filhos de uma família antes mesmo de ser enviado ao Reino Unido com a identidade falsa de Mohamed Farah.
As revelações foram divulgadas nesta terça-feira (12) por uma prévia do documentário produzido pela BBC e do Red Bull Studios sobre a vida do corredor de longa distância. A mulher que ele não conhecia o ameaçava para que ele não contasse nada a ninguém na vizinhança do Reino Unido e o obrigava a realizar todas as tarefas da casa e cuidar das crianças “se eu quisesse comida na minha boca”, contou Hussein Abdi Kahin nome de nascimento do atleta.
O crime aconteceu em 1992, há apenas 30 anos. Mo conta que desde o primeiro dia ele sabia que não era uma adoção e sim que ele trabalhava para eles. Os lugares de comer e de dormir eram separados do restante dos filhos da casa. A família demorou cerca de três anos para permitir que o então menino começasse a frequentar a escola e informou à instituição que Mo era um refugiado da Somália. No documentário da BBC, a antiga professora Sarah Rennie revelou que ele falava muito pouco inglês e não contava com a participação da família na vida escolar.
Foi o atletismo quem ajudou a Farah a desenvolver a confiança em um professor de educação física e revelar sua situação de escravizado. Ao saber da história verdadeira, o professor Alan Watkinson entrou em contato com os serviços sociais e ajudou Mo a encontrar uma família somali que o acolheu. “Ainda sentia falta da minha família real, mas a partir daquele momento tudo melhorou”, conta o atleta no documentário.
Não se tem informações se as pessoas responsáveis pela escravização e sequestro de Mo sofreram alguma sanção. O atleta reforça que quer contar a sua história como um alerta. “Não tinha ideia de que havia tantas pessoas que estão passando exatamente pela mesma coisa que eu. Isso só mostra o quão sortudo fui”, lembra Mo durante o documentário.
De acordo com um levantamento da instituição britânica de caridade antiescravidão Justiça e Cuidado e o instituto de pesquisas Centro por Justiça Social estima-se que no Reino Unido existam hoje 100 mil escravizados modernos, dez vezes mais do que a estimativa oficial do governo britânico que gira em torno de 10 mil a 13 mil pessoas escravizadas.
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