O chamado “tarifaço”, imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, têm causado preocupação entre os produtores brasileiros. Tal mudança pode gerar um impacto de bilhões de Reais nas exportações do país e a expectativa é de que a medida entre em vigor a partir de 1º de agosto. Se for o caso, o Brasil corre o risco de perder destaque na exportação de vários produtos em um dos mercados mais importantes do mundo.
Dentre eles se destacam: café, suco de laranja, carne bovina, calçados e até aeronaves, que pode resultar em custos de até R$50,1 milhões, podendo também ser substituídos por produtos de outros países da Europa. Essa nova tarifa afeta diretamente setores que dependem do mercado norte-americano para manter suas atividades, empregos e competitividade internacional, é o que afirma Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).

Segundo Marcio Ferreira, presidente da Cecafé, o Brasil é o maior fornecedor de café verde para os Estados Unidos. Se uma tarifa for aplicada, ela pode dificultar os contratos atuais e abrir espaço para concorrentes como Colômbia e Vietnã, mesmo que esses tenham uma produção menor. Mais de 80% do suco de laranja concentrado consumido nos Estados Unidos é produzido no Brasil.
“O Brasil fornece 33% de todo o café consumido em solo norte-americano. O café brasileiro, tanto arábica quanto robusta, é o mais competitivo e possui as características de sabor que o público dos Estados Unidos já está acostumado, que aprova”, aponta.
A CitrusBR, que representa os produtores de suco de laranja, alertou que a tarifa não prejudica só o Brasil, mas toda a cadeia de fornecimento dos EUA, que há décadas depende do suco brasileiro. A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abic) descreveu a medida como “um balde de água fria”. Depois de um crescimento forte nas exportações, o setor agora vê risco de ficar parado.
Quanto à carne bovina refrigerada, cerca de 25% que é importada pelos norte-americanos vem de frigoríficos brasileiros. Com a tarifa, o preço aumenta, e isso pode fazer com que estas redes mudem de fornecedor. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) teme que o Brasil perca espaço para Austrália e Canadá. Esses países oferecem prazos logísticos mais longos, mas estão livres das novas tarifas.
“Cerca de 30 mil toneladas de carne brasileira já estão no porto ou já nas águas em direção aos Estados Unidos, o que representa um total de 150 milhões de dólares a caminho dos Estados Unidos. Estamos negociando com os importadores de lá. Nossa sugestão inicial é de possível prorrogação da taxação porque existem contratos em andamento e não dá tempo de desfazê-los até o dia 1 de agosto”, lamenta.
Nos calçados, os EUA são o principal destino das exportações brasileiras. Só no primeiro semestre de 2025, o Brasil vendeu mais de 5,8 milhões de pares, gerando mais de R$622 milhões. O presidente norte-americano tomou uma atitude após fazer críticas ao BRICS, grupo que reúne países como Brasil, Irã, China e Rússia. A Embraer segue liderando o mercado de jatos regionais estadunidenses.
O aumento das taxas estadunidenses pode levar os norte-americanos a buscar fornecedores alternativos, colocando em risco as exportações brasileiras. Esse impacto pode gerar desemprego tanto no setor agrícola quanto na indústria, além de comprometer a balança comercial do país. Diante dessa ameaça, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva destaca uma estratégia de diversificação comercial, além da importância de buscar novos parceiros comerciais fora da esfera norte-americana.
“Em outubro, sou convidado para participar do encontro da ASEAN. São 10 países asiáticos, muito importantes do ponto de vista econômico. E eu vou lá para fazer parceria estratégica com os países da Ásia e vou lá para fazer negócio. Se os Estados Unidos não quiserem comprar, eu vou procurar quem quer comprar”, afirma ele.
A declaração do presidente reforça que o governo brasileiro quer estreitar relações comerciais com países asiáticos. Isso pode abrir espaço para um avanço maior da China na América do Sul. Caso não seja firmado um acordo favorável, os exportadores brasileiros podem sofrer perdas significativas. A consequência seria a migração de empregos e investimentos atualmente sustentados pelas vendas para os Estados Unidos, trazendo novos desafios ao mercado nacional.
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