Iniciativa tem como foco os jovens e adolescentes que votam pela primeira vez
Criada pela Purpose, uma organização norte-americana que atua no Brasil desde 2016, a Bancada dos Sonhos é uma iniciativa didática que para auxiliar eleitores de todo país, mas, especificamente, das cidades de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, a identificarem as demandas de cada uma das cidades. De acordo com uma das coordenadoras da Purpose no Brasil, Bruna Galvão, a Bancada dos Sonhos simplifica temas complexos e mostra para os jovens eleitores a importância do voto. “Como o próprio nome indica, a Bancada dos Sonhos não fala de nenhum candidato real, mas sim de personagens fictícios que apresentam propostas reais e factíveis para cidades verdes e inclusivas”, afirma.
Ainda segundo Galvão, a Bancada faz parte do laboratório de clima da Purpose e tem o objetivo de mostrar que problemas crônicos, como saúde, mobilidade, emprego e desenvolvimento e até segurança alimentar podem ser equacionados no âmbito da gestão municipal. “A escolha desses temas não foi aleatória: ela resultou do cruzamento de pesquisas, monitoramento de conversas, testes em redes sociais e agendas de organizações parceiras que têm trabalhado com as pautas de clima e cidades e sinalizaram sua relevância e urgência”, comentou.
Bruna ressaltou também que a pandemia da Covid-19 será um dos temas centrais das eleições 2020 e que a atenção com as propostas precisa ser redobrada. “Ficou evidente que os efeitos da pandemia vão pautar estas eleições. Nossa apuração indicou que, para o eleitor, emprego, saúde e mobilidade são as três principais preocupações e, consequentemente, onde eles mais esperam propostas dos candidatos”, explica Bruna.
Dinâmica da Bancada
Para simplificar alguns temas aparentemente complexos, três candidatos imaginários foram criados: Joana, por São Paulo; Tales, por Belo Horizonte; e Clarice, pelo Rio de Janeiro. As campanhas eleitorais dos três estão disponíveis nas redes sociais e no site https://bancadadossonhos.com.br/, que trás, a partir de cards compartilháveis, as propostas para cada município. Mas, segundo a coordenação da iniciativa, a ficção termina aí: as propostas para a construção de cidades a partir da justiça econômica, social e climática são reais. “Elas [as propostas] foram elaboradas com base em agendas criadas da sociedade civil, como as propostas do Nossa BH, da Rede Nossa SP e da Agenda 2030 da Casa Fluminense, além da Agenda Urbana do Clima, que reúne propostas para a criação de emprego e renda, garantia de segurança alimentar e para a mobilidade. Três dos temas priorizados pelo projeto”, afirmou.
Bruna Galvão ainda enfatizou que a iniciativa visa o debate de ideias para solução de problemas sociais, como os citados nas propostas e fazer um chamamento público para que os candidatos se empenhem na construção de uma política mais participativa e menos excludente. “A proposta deste trabalho é contribuir com o debate das soluções para as cidades dos nossos sonhos e, neste sentido, não só convidamos candidatos de todo o Brasil para que se comprometam com os temas propostos mas também nos propomos a fornecer informações para que aqueles que forem eleitos possam pautar suas políticas a partir de uma perspectiva de recuperação verde e inclusiva”, finalizou.
Política é um processo
Para o Cientista social, Especialista em sociologia no ensino médio e Professor de sociologia da rede estadual de ensino de Minas Gerais, Everton Pereira, esse processo é extremamente importante para a participação do jovem na política. Segundo ele, o senso comum afasta as pessoas desse processo e distorce a construção do que é democracia. “Esse contexto de ensinar, em quem votar, o que votar e como votar, antes de mais nada, é um processo. Você precisa contextualizar o jovem o que é política, o que é fazer política. Pensar que a política tem essa instância da macropolítica, que está nas disputas eleitorais, partidárias. E temos a micropolítica, que é o que a gente faz cotidianamente. Se somos seres sociais, somos seres políticos”, comenta.
Ainda de acordo com Everton, o processo de ensinar é fazer os jovens entenderem o que é a política, como é fazer política. “O primeiro passo é tentar desnaturalizar com os jovens essa aversão que eles têm do que eles acham que é política, pelo conhecimento do senso comum. Nos nossos primeiros espaços de socialização, como família, escola, a gente aprende a fazer e estar dentro da instância política. Não essa política de noticiários que vemos todos os dias de corrupção, de jogo de interesses”, ressalta.
Pautas sociais
Everton ressaltou ainda que uma cidade tem juventudes diferentes e cada uma delas tem visão de mundo e necessidades distintas. “Um jovem do Alto Vera Cruz tem uma necessidade, uma percepção. O jovem do Belvedere, vai ter outra. São grupos diferentes, que vivem no mesmo contorno municipal, mas com realidades distintas. Pensar o que é o melhor para a cidade é pensar o que são classes. Esse jovem precisa ter esse entendimento, para falar o que é o melhor para cidade”.
Envolvimento do jovem
O professor ressalta ainda que, para prender a atenção desses jovens ao processo político, é preciso implicá-los na história e, nesse sentido político, é necessário colocar o jovem como protagonista de uma série de decisões. “Uma forma de chamar a atenção é fazer a construção do cotidiano dele sobre como é importante que ele decida como um aspecto político pode impactar diretamente a vida dele. Exemplificar com decisões do governo Estadual sobre a escola pública que ele estuda, até o uniforme é determinado pela política”.
Everton lembrou também que a política é uma construção coletiva do conhecimento e o jovem precisa entender que o voto é um dos momentos da relação democrática. “O jovem tem que se sentir participante dessa condição de que ele também pode definir os caminhos da política, não necessariamente através do voto, mas da vigilância contínua sobre o processo político democrático”, finalizou.