Com prefácio de Muniz Sodré, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e orelha de Lazare Ki-Zerbo, vice presidente do Comitê Internacional Joseph Ki-Zerbo para a África e a Diáspora (CIJKAD), o babalawô Ivanir dos Santos lança na próxima quinta-feira (12), às 19h, na Livraria Blooks, em Botafogo (RJ), seu primeiro livro “Marchar não é caminhar” (Pallas Editora).
Na ocasião o líder religioso fará uma noite de autógrafos e conversa com o público. O evento contará com a presença dos professores e doutores Helena Theodoro e André Chevitarese. O livro chega em momento oportuno, quando terreiros vêm sendo atacados e destruídos em nome de um Deus que, supostamente, não aprovaria religiões de origem africana. Só no Rio de Janeiro, há cerca de 200 terreiros sob ameaça.
O título de 357 páginas é o resultado da tese de doutorado do autor que levanta e analisa as interfaces políticas e sociais das religiões de matrizes africanas no Rio contra os processos de intolerância religiosa e o racismo no Brasil, entre 1950 e 2008. Com esta pesquisa, Ivanir se credenciou como doutor em História Comparada pela UFRJ, em maio de 2018.
“A intolerância religiosa, o racismo e o preconceito são um dos maiores fenômenos sociais brasileiros”, afirma Ivanir, criador da Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, que chegará à sua 12ª edição no domingo seguinte ao lançamento, dia 15 de setembro, pela orla de Copacabana, reunindo, mais uma vez, judeus, muçulmanos, umbandistas, budistas, católicos, índios, ciganos, kardecistas, candomblecistas, evangélicos e quem mais quiser se manifestar.
Para Ivanir, a pesquisa jamais estará concluída. “Acredito que o maior desafio, para todos nós, não é apenas construir uma sociedade mais tolerante, mas, sim, compreender que as pontas soltas que nos conectam fortalecem cotidianamente os processos de invisibilidade e sistematização do racismo e da intolerância”, diz. Ele espera possibilitar a abertura de outras janelas a partir da leitura deste “Marchar não é Caminhar”. Por anos a fio, a editora Cristina Fernandes Warth o incentivou a escrever sobre as suas lutas e conquistas. Dizia sempre: ‘Quando você fizer um livro, eu quero editar!’.
“Ivanir dos Santos é um intelectual pulsante, que está discutindo questões da história imediata do nosso país. O tema que ele aborda neste lançamento é necessário, urgente, grave e precisa ser olhado com sensibilidade. Ivanir é, sem dúvida, essa voz sensível para tratar das desigualdades, da intolerância e da viabilidade de diálogos. Ao mesmo tempo em que ele está na academia, também atua no movimento negro e no espaço da religião, e é uma autoridade multifacetada. Para nós é motivo de orgulho lançar o livro de estreia desse grande e amoroso líder”, conta Cristina Fernandes Warth, da Pallas, uma editora que dá voz e vez aos autores negros.
Premiado internacionalmente
Há 40 anos atuando em prol das liberdades, dos direitos humanos, das pluralidades contra o racismo e a intolerância religiosa, Ivanir dos Santos recebeu o prêmio Internacional Religious Freedom (IRF), em julho último. Foi entregue pelo Departamento de Estado do Governo dos Estados Unidos, durante evento em Washington, pela importância na luta contra a intolerância a praticantes de religiões de matriz africana no Brasil. Ele foi o único líder religioso do Ocidente a ser premiado. Ao olhar para a trajetória de vida e militância, dentro e fora da esfera social, cultural, religiosa, política e acadêmica, o seu nome desponta como uma referência.