A família de Kathlen Romeu cobra respostas a justiça. Neste sábado (08) completa 3 anos da morte de Kathlen e seu bebê, que foram assassinados em confronto de policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) e criminosos no Complexo do Lins, Zona Norte do Rio. Os policiais a época disseram que estavam revidando ataque de bandidos, mas o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ) denunciou 5 policiais por fraude processual e falso testemunho.
Dois policiais respondem por homicídio, mas ninguém foi preso ainda. Jacklline Lopes, mãe de Kathlen, foi a Brasília junto com um representante da Ação Negra e da Federação de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (Faferj) Gabriel Siqueira. Na capital, eles encontraram a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco e o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida. A reunião foi promovida pelo vice-líder do governo na câmara, o deputado federal Henrique Vieira.
A família foi a procura do governo, pois não acredita que o sistema de justiça possa solucionar o caso.
“Nunca foi e nunca será interesse do poder judiciário nos dar uma resposta. Tanto que meses recentes o judiciário do Rio de Janeiro tem perdoado os assassinos de vítimas de letalidade policial. O judiciário não corrobora para que os assassinos da minha filha e neto sejam punidos. Tanto que o MP pediu a prisão e eles continuam soltos, vivendo no conforto da casa deles”, disse Jacklline.
Coordenador da Ação Negra e diretor da Faferj, Derê Gomes entende que há um emporderamento excessivo dos agentes de segurança:
“Esse empoderamento vem da ascensão da extrema-direita com governadores sendo eleitos dizendo que era pra dar ‘tiro na cabecinha’, de um Ministério Público omisso, de um Poder Judiciário cúmplice e de uma imprensa que legítima reproduzindo a versão oficiosa dos batalhões. O genocídio do povo negro é um crime quase perfeito, eu tenho certeza que se a Kathlen fosse uma jovem branca do Leblon isso jamais teria acontecido, e se acontecesse alguém já teria sido responsabilizado”, analisa.
A Ação Negra apoia as ações da Federação de Favelas, a FAFERJ, e da Comunidade Black, grupo de amigos da Kathlen, a amparar a família com a articulação de psicólogos para acompanhamento de saúde mental, promoção de ações no Complexo do Lins e em outros territórios do Rio junto da família.
Na falta de respostas da justiça, Jackelline se sentiu acolhida pelos movimentos sociais, ela acredita que o fato das famílias de vítimas do estado procurarem outras organizações é um dedo na ferida.
“Essa também é uma responsabilidade da ineficácia do Estado quando se diz respeito a nossa cor e CEP. Eles tiram a vida dos nossos e desde o recebimento da notícia, a gente só vai! Hospital, IML, cemitério, delegacia, MP, atos, audiências…só que toda essa movimentação é necessária e urgente! Se com todos os movimentos denunciando, cobrando, conseguindo elementos que comprovem a culpa dos responsáveis por tirar a vida dos nossos filhos, eles continuam nos trazendo dor. Imagina se nós calássemos?!”
Segundo Derê, a Ação Negra promove articulação política com os três poderes em Brasília, para que haja uma pressão no Tribunal de Justiça por maior celeridade no caso, lutamos por visibilidade na imprensa para que fosse difundida a versão das testemunhas que estavam no local no dia e horário do assassinato, organizamos atos na porta do Ministério Público cobrando o indiciamento dos agentes que apertaram o gatilho e também organizamos atividades no Complexo do Lins.
“Justiça atrasada, é justiça negada!”
“Eles as assassinam nossos filhos, nos revitalizam diariamente querendo apagar a memória dos nossos entes e querem nos enterrar também! É o maior responsável por toda essa barbárie que assola o Rio de Janeiro, é o MP e judiciário, que chancelam todas essas covardias. Os movimentos são constituídos por familiares, amigos e solidários a causa. Um filho é um sagrado que ninguém deveria tocar! No meu caso foram dois: filho e neto! Se nos calarmos, nossos filhos morrem! E pra gente, enquanto vivermos, eles viverão! Cobraremos incessantemente até que haja justiça! Queremos celeridade no caso, mas não aceitaremos qualquer resposta. Se eu tivesse feito com um agente do Estado, mesmo sem provas, bastasse somente uma foto, eu já estaria presa. Não iremos nos calar até que a haja verdade, memória, reparação e justiça pra Kathlen Romeu e seu bebê”, desabafou a mãe de Jackelline.
Durante a reunião com o Ministério de Direitos Humanos, foi proposta a criação de uma pasta dedicada a encontros com o presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, o desembargador Ricardo Rodrigues Cardozo, e o procurador-geral de Justiça, Luciano Mattos.
No próximo domingo (09), a partir das 13h, está agendado um encontro para fortalecer o memorial em homenagem a Kathlen Romeu e seu bebê, localizado na Rua Araújo Leitão, número 926, no bairro do Complexo do Lins, Zona Norte do Rio de Janeiro. A programação incluirá uma variedade de atividades.
“Não queremos vingança e sim justiça ao máximo rigor da lei. É vergonhoso que o Estado tenha como representante pessoas que ao invés de nos proteger, nos enfiam na pior dor que um ser humano pode sentir. Homens que usam farda pra legitimar barbárie, crueldade, assassinatos e ainda assim tenham o perdão das casas de justiça. Ou agora a polícia que escolhe quem vive e quem morre? É normal assassinar mulheres cumpridoras dos seus deveres como cidadã grávida? Mulheres negras não podem mais gerar e seus filhos não podem mais nascer?! A PMERJ virou uma máquina de ceifar vidas negras inocentes! Uma instituição falida que mais traz dor do que honraria! Uma policia que negocia com podres paralelos e os corpos que tombam são os nossos que nada tem a ver com essa nojeira“, colocou Jackelline.
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