Mesmo sendo 54% da população brasileira, segundo o IBGE, os negros ocupam apenas 4,7% dos postos de direção e 6,3% em cargos de gerência nas 500 maiores corporações do Brasil, segundo levantamento do Instituto Ethos e do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Quando se faz um recorte por sexo, a discrepância é ainda maior: as mulheres negras estão em apenas 0,4% dos cargos de direção e em 1,6% dos postos de gerência.
A representatividade nos espaços de poder é fundamental para o empoderamento do povo preto, conforme explica a Psicóloga e Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental, Ellen Moraes Senra: “Nós negros, viemos de uma história de abusos da nossa força física e subjugação da nossa inteligência, além disso pouco é esperado de nós em termos de produção e colaboração cultural. Logo, ver os nossos em lugar de destaque mexe com as estruturas que nos limitam e nos mostra que com esforço podemos fazer com que contêm uma história diferente sobre nós”.
De acordo com o estudo do Instituto Ethos, caso o país continue evoluindo lentamente, como acontece hoje, seria preciso 150 anos até que a distribuição destas vagas esteja em consonância com a realidade da população.
O preconceito racial no país é estrutural, estruturante e histórico. Até 1950 era comum lermos a frase ‘Não se aceitam pessoas de cor”,em anúncios, como descreveu Abdias do Nascimento no livro “O genocídio do negro brasileiro”. A frase deixou de ser usada a partir do ano seguinte, quando a Lei Afonso Arinos proibiu categoricamente a discriminação racial no país. Mas, como observou o próprio autor, “tudo continuou na mesma”, já que os anúncios passaram a requerer pessoas de “boa aparência”, num mero eufemismo para a restrição anterior.
Ver os nossos ocupando altos postos faz com que possamos enxergar além”
Critérios preconceituosos como este é um dos motivos que explica, mas não somente, o fato da população negra ser sub representada nos postos de direção ou gerência. Essa falta de representatividade impede, segundo a psicóloga Ellen Senra dos negros acreditarem em seu potencial: “Ver os nossos ocupando altos postos faz com que possamos enxergar além. Desde que nascemos somos condicionados a nos guiar pelos exemplos, exemplos esses que em sua maioria são de familiares que precisaram pagar com muito suor a nossa educação, que trabalharam desde a infância e deixaram os canudos de lado para que hoje nós possamos conquistar os nossos. Sendo então uma espécie de obrigação nossa não nos curvar diante de comportamentos colonizadores”.
A psicóloga diz ainda que é possível ser o primeiro e fazer a diferença em nosso meio social ou familiar: “Há um tempo atrás o caminho lógico seria reproduzir, pois ouvíamos pouco sobre aqueles que saíam da curva, mas atualmente onde temos redes sociais nos empurrando possibilidades e nos contando histórias de superação, cabe a cada um observar e questionar a si mesmo sobre as melhores opções para si, mas o importante é que hoje é possível saber que temos opção”.