“A pauta africana recuou muito nas preocupações de todos”, diz ex-embaixador da ONU

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Dos cinco candidatos com maior intenção de voto, apenas Luiz Inácio Lula da Silva (PT) um propõe algo para o continente africano. Mesmo assim o ex-presidente ainda a sugere de forma curta: “Reconstruiremos a cooperação internacional Sul-Sul com América Latina e África”.

Uma semana após voltar de uma viagem ao Brasil o o guineense Carlos Lopes, ex-embaixador da ONU no Brasil e ex-secretário-executivo da Comissão Econômica para África declarou que o Brasil está na retaguarda em um momento onde os grandes blocos olham para África como parte da solução para desafios geopolíticos.

Em entrevista à Folha de S. Paulo, Carlos Lopes comentou sobre a necessidade de se pensar em uma política externa para o continente, no entanto, isso exige o rompimento com estereótipos e uma análise mais profunda sobre a região.

A questão identitária no Brasil é um problema que leva a uma visão da África muito abstrata e distante da realidade. Falei com pessoas no Itamaraty, e a impressão que fica é que pensam que se resolve o problema de relacionamento com África dando mais peso à negritude e a questões de diversidade. Do lado africano, acho que isso não tem importância nenhuma. Africanos estão mais interessados em saber qual é a posição do Brasil em relação ao Brics, em matéria comercial, se vamos fazer alianças para defender interesses comuns. É uma agenda muito mais pragmática. Com raras exceções, havia um desconhecimento extraordinário sobre a situação econômica na África. Parece que parou tudo no tempo“, disse o ex-embaixador da ONU.

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Carlos Lopes, ex-embaixador da ONU

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Carlos Lopes também comentou sobre sua visão em relação a política externa brasileira para o continente:

Estamos em um período geopolítico muito particular, em que fica explícito que vamos ter a renovação das regras multilaterais. E praticamente todos os elementos só terão solução a longo prazo com a participação da África. Na questão da propriedade intelectual, vai haver uma batalha em que parte da resposta não é só a inovação, mas também o consumo, e a África vai ter uma situação singular de um em cada dois nascimentos a partir de 2040; os jovens africanos são indispensáveis como consumidores de tecnologia“, declarou.

Sobre sua visita ao Brasil Carlos Lopes comentou que o país ainda tem uma visão da África muito distante da realidade:

Fiquei com a impressão de que a pauta africana recuou muito nas preocupações de todos. A África aparece associada mais à questão identitária do que à oportunidade de relacionamento econômico. No próprio PT, sempre existiu essa predominância identitária, mas acho que agora há mais. Isso cria algumas dificuldades, porque a questão identitária no Brasil é um problema que leva a uma visão da África muito abstrata e distante da realidade. Falei com pessoas no Itamaraty, e a impressão que fica é que pensam que se resolve o problema de relacionamento com África dando mais peso à negritude e a questões de diversidade“, disse.

Segundo Carlos, do lado africano, a questão é muito mais pragmática: “Africanos estão mais interessados em saber qual é a posição do Brasil em relação ao Brics, em matéria comercial, se vamos fazer alianças para defender interesses comuns. É uma agenda muito mais pragmática. Com raras exceções, havia um desconhecimento extraordinário sobre a situação econômica na África. Parece que parou tudo no tempo

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