Grandes nomes do futebol frequentemente têm suas vidas pessoais mais destacadas do que suas conquistas profissionais, especialmente quando se trata de atletas negros. Nos últimos meses, matérias sobre relacionamentos e polêmicas envolvendo jogadores ganharam mais espaço do que reportagens sobre desempenho, títulos ou posicionamento social. O caso mais recente é o do atacante Vinícius Júnior, do Real Madrid, que teve sua suposta relação com a influenciadora Virgínia Fonseca amplamente explorada nas redes e na imprensa.
Enquanto isso, um feito histórico do jogador passou quase despercebido: segundo a revista Forbes, Vinícius, de 25 anos, é o único brasileiro na lista dos jogadores mais bem pagos do mundo em 2025. Ele ocupa a sexta posição, com ganhos estimados em US$ 60 milhões (cerca de R$ 326 milhões), sendo US$ 40 milhões em salários e US$ 20 milhões provenientes de patrocínios e ações comerciais.
Para entender esse contraste entre o destaque às polêmicas e o apagamento das conquistas, o Notícia Preta ouviu Marcelo Carvalho, diretor do Observatório da Discriminação Racial no Futebol.
“Isso em a ver com a questão do estereótipo, mas também com o consumo”, explica Carvalho. “O que as pessoas querem consumir hoje é polêmica. Uma matéria sobre a vida pessoal de um atleta gera muito mais cliques do que um conteúdo que aprofunde sua trajetória ou relevância profissional. Hoje a mídia está muito mais pautada pelo clique do que pela produção de um conteúdo de qualidade.”

Carvalho aponta que essa lógica de mercado reforça estigmas antigos sobre o homem negro. “Infelizmente, é isso que pauta a mídia, principalmente a de entretenimento. Ela reforça a imagem do atleta negro como figura polêmica, e não como referência de excelência e disciplina.”
Quando perguntado sobre o caso específico de Vinícius Júnior, o diretor do Observatório destacou o cuidado do atleta com sua imagem e o impacto positivo que ele tem gerado.
“O Vinícius sempre teve um cuidado muito grande com a imagem dele. Durante anos, só se viam matérias sobre seus feitos e seu posicionamento na luta contra o racismo. Ele se tornou uma inspiração não só para jovens negros, mas também para outros que sofrem diferentes formas de violência. Muitos atletas passaram a se posicionar publicamente sobre racismo depois de ver o exemplo dele.”
Apesar disso, o contraste entre o reconhecimento e a forma como a mídia aborda sua vida pessoal revela uma questão estrutural: a dificuldade da imprensa em enxergar o homem negro para além da narrativa da polêmica.
“O Vinícius Júnior é hoje uma referência global, mas ainda precisa lidar com uma cobertura que muitas vezes tenta reduzir sua imagem. É uma luta constante entre o conteúdo e o clique”, conclui Carvalho.
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