Hicaro Teixeira tem vivido um massivo linchamento virtual desde que decidiu deixar de apoiar o presidente da república, Jair Bolsonaro, conforme reportagem publicada na última-terça-feira (03). Na tarde desta quarta-feira (4), o Notícia Preta conversou com youtuber para trazer luz a todos os fatos que envolvem a situação.
Em entrevista exclusiva, Hicaro falou dos motivos que o levaram à decisão, do extremismo, dos arrependimentos, de Hélio Negão e foi enfático: “eles queriam um negro de estimação, que dissessem o que eles queriam ouvir” Confira a entrevista.
Notícia Preta: O que levou você a apoiar o Bolsonaro na campanha eleitoral?
Hicaro Teixeira: O Bolsonaro nunca foi meu candidato dos sonhos. Nunca. Mas algumas coisas me influenciaram a isso. Como eu já tinha um nicho nas redes sociais, falava de política no meu canal e tinha um blog, eu via as pessoas apoiando o Bolsonaro de forma adoidada. Uma hora, eu cansei de argumentar, porque as pessoas já vinham me linchar se eu discordasse de algo. Como meu público ficava na onda de “Bolsonaro 2018” nos comentários, pensei: “quer saber? Não vou discutir com as pessoas. Vou apoiar. É o que elas querem”. E hoje estamos vendo tudo isso acontecer. Eu achava que ele ia governar para o país inteiro: direita, esquerda, centro… Só que ele ganhou a eleição, e a campanha de ódio continuou.
NP: Por que você parou de apoiar o presidente?
HT: Por causa de uma série de erros que aconteceram, por conta da radicalização nas redes sociais dessa extrema direita, dessa base do presidente na internet. Se você discordar de uma vírgula, você é chamado de petralha, de comunista, de macaco, de urubu… E não foi a primeira vez que recebi esse tipo de ataque. Essa onda começou logo depois que eu rompi (com o presidente). Vários apoiadores do presidente vieram me xingar, falar do meu cabelo e mandar mensagens muito pesadas. Meu erro enquanto youtuber foi ter dado voz a essas pessoas. Com o tempo, fui vendo que existiam muitos supremacistas que queriam um negro de estimação, que dissesse o que eles queriam ouvir. E essas pessoas se sentiam empoderadas. Bolsonaro está empoderando pessoas preconceituosas.As pessoas estão tendo liberdade de xingar e de serem estúpidas por causa de um representante. Quando falei que estava sofrendo racismo, as pessoas começaram a rir.
NP: Você se arrepende de tê-lo apoiado?
HT: Sim. Eu não deveria ter votado nele, não deveria ter apoiado. As pessoas acabaram indo nesse erro de antipetismo, e esse ódio tomou conta. Isso está nos levando para o caos. E agora, quando a gente admite que errou, vem esse linchamento virtual. As pessoas preferem ficar nesse julgamento e, se continuarem assim, o mal não vai ser tirado.
NP: Sobre esse linchamento virtual. Você tinha uma base grande de seguidores nas redes sociais. Como está agora?
HT: Eu tinha 136 mil inscritos no YouTube; agora, são 114 mil. No Facebook, tinha 49 mil curtidas; agora, são 41 mil. É muito hater, muito bolsonarista com ódio falando que sou um lixo, que não presto, que sou comunista, que sou petralha…
NP: Como você define sua visão política?
HT: Nos costumes, sou progressista. Sou favorável a pautas a favor da diversidade, dos negros, dos gays, dos índios, dos trans… E, na economia, sou favorável a uma economia com responsabilidade, uma visão liberal, mas com responsabilidade social. Sou a favor do livre mercado, do empreendedor, mas do empresário que pensa nas pessoas, que pensa nos pobres – e não daquele patrão que só pensa no lucro. Sou a favor do equilíbrio na política hoje.
NP: O que você acha do Hélio Negão?
É um negro cenográfico. É um negro que, infelizmente, é usado para dizer que o Bolsonaro não é racista. Em nenhum momento o Bolsonaro elogia as pautas dele, os projetos dele. Só serve para ficar fazendo piadinha. É triste.