Durante o período de férias escolares, a pedagoga Fernanda Oliveira abriu as portas da sua casa para receber crianças negras e ensiná-las, gratuitamente, letramento e cultura afro-brasileira. Moradora da cidade de São Leopoldo, região Metropolitana de Porto Alegre (RS), a professora decidiu unir a vida profissional com a vontade de fazer diferença na vida da comunidade negra. “É um ato simples, mas que marcasse a vida de algumas crianças”, resumiu a professora.
Segundo ela, o objetivo é conectar o letramento à cultura, fazendo com que as crianças se apropriem da sua identidade para enfrentar o racismo no dia a dia. “Acredito que quando a pessoa sabe ler e escrever ela tem autonomia para fazer suas escolhas e não se conformar com o sistema e a forma que as coisas são impostas para nós”, afirmou.
Exclusão social
Professora há mais de 20 anos na rede municipal de Novo Hamburgo, Fernanda ressalta que crianças não alfabetizadas são automaticamente deslocadas da sociedade e, no caso das crianças negras, o racismo é um agravante, resultando em consequências futuras. “O racismo gera baixo autoestima nas pessoas e isso vira uma bola de neve. A partir do 6º ano, há uma grande evasão escolar, poucos chegam ao ensino médio e muito menos em uma Universidade”, disse.
Políticas de Inclusão
Fernanda entende que as políticas afirmativas resultam em um aumento de alunos pretos nas universidades, porém, o contexto social dificulta a continuidade dos estudantes para concluir a graduação. “Não basta só ingressar numa universidade, existe todo um contexto que dificulta: o deslocamento, o transporte, a compra de material”.
Trabalho de Formiguinha
Formada em pedagogia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e o foco dos seus estudos sempre foi em crianças negras e o Protagonismo Negro na Escola Pública. Com o trabalho realizado no período de férias, que considera de “formiguinha”, a professora deseja gerar frutos além da alfabetização. “Quero que eles conheçam sua cultura e desassociem de questões escravocratas, que o negro só tem sucesso em profissões específicas. Que eles saibam que podem ser jogadores de futebol ou estar na dança e no carnaval, mas também podem ser médicos, advogados. Podem escolher o que querem ser”, finalizou.
Ainda segundo a pedagoga, as atividades são para criar um ambiente alfabetizador, propício à identidade negra. Para isso, vão contar com uma “Afroteca”, recheada de autores negros, e com o auxílio das suas filhas Isabella e Giovanna, de 14 e 12 anos, respectivamente. Ao todo, 10 crianças serão atendidas na casa da Fernanda, às quartas feiras.