População acusa policiais militares de assassinar dois jovens e ônibus é incendiado em bairro periférico de Salvador

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Ônibus é incendiado em Sussuarana Velha e rodoviários suspendem a circulação no bairro

Moradores do bairro de Sussuarana, em Salvador, denunciam violência policial na capital baiana. Segundo comerciantes da região, que não quiseram se identificar, policiais militares (PMs) teriam atirado em dois jovens, que não tiveram o nome identificado oficialmente, durante uma operação. Segundo os próprios moradores, os atingidos estavam em casa e foram alvejados após se negarem a pagar uma quantia que supostamente foi solicitada pelos policiais.

No começo da noite desta segunda-feira (02), circulou na região um áudio através do aplicativo WhatsApp determinando toque de recolher. De acordo com os moradores, o áudio foi enviado por criminosos na região que determinavam que o comércio local deveria fechar e os moradores precisavam ficar em suas casas enquanto a viatura 4820 continuasse atuando.

“Ontem 19h30 eu já estava em casa, porque os caras deram toque de recolher. Disse que o policial matou dois inocentes dentro de casa, pois não quiseram dar propina. Aí entrou dentro de casa e matou os meninos inocentes. Aí tava circulando o áudio dizendo que eles não fazem isso não, mas vai fazer (determinar o toque de recolher). E os comerciantes não iam ter paz enquanto os motoqueiros e os caras da 4820 (viatura da região) não forem embora. Falou muita coisa. Eu aqui me tremendo, o cara me ameaçou lá para fechar. Eu vim para casa que bala nem pega. Ainda queimaram buzú (ônibus na gíria baiana)”, declarou uma moradora do bairro de Sussuarana.

Bairro de Suassuna / Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO

Em nota, a polícia informou que a polícia foi recebida na tarde desta segunda-feira a tiros na comunidade conhecida como Baixa da Paz, neste bairro. Um homem foi atingido na troca de tiros e morreu no Hospital Roberto Santos. A polícia ainda informou que reforçou o policiamento na região e está apurando essa morte. De acordo com o Centro Integrado de Comunicação das polícias (Cicom), por volta das 22h30, desta segunda-feira, na Avenida Ulisses Guimarães, no bairro de Sussuarana, um ônibus foi incendiado por 5 homens. A policial ainda não se manifestou sobre a denúncia de violência policial feita pelos moradores.

Nesta terça-feira (3), o bairro teve a circulação de ônibus interrompida. A medida foi estabelecida pelo Sindicato dos Rodoviários, após um coletivo ser incendiado. “Estamos sem ônibus lá e sem previsão de retorno”, informou o vice-presidente do Sindicato, Fábio Primo. O sindicalista contou que a ação emergencial visa preservar a integridade física dos trabalhadores. O mesmo ainda informou que os rodoviários que estavam no coletivo incendiado não sofreram ferimentos e estão bem.

População baiana é refém da violência

A região de Sussuarana tem histórico de denúncias de violência policial. Em junho deste ano a jovem Cristiane da Silva, de 22 anos, foi atingida durante uma suposta operação policial no bairro, no final da manhã do dia 23, véspera de São João. De acordo com a população, os agentes da polícia militar já chegaram com abordagem truculenta ao local. A polícia, no entanto, nega a informação, garantindo que a mulher foi baleada durante troca de tiros que aconteceu antes dos PMs chegarem.

Em fevereiro de 2017, um jovem de 20 anos, Erinalvado Barros Sacramento, foi morto com 25 tiros, na Rua Raimundo Deiró Rocha, também conhecida como Rua do Chapéu, por volta de 22h do dia 05. A vítima estava na porta de casa quando três homens se aproximaram e atiraram, segundo as testemunhas que conversaram com a polícia na época.

A região de Sussuarana é composta pela Sussuarana Nova, Sussuarana Velha e Novo Horizonte, formando assim um complexo populacional que sofre constantemente com a violência. Segundo o Atlas da Violência 2018, que analisou os registros de 2017, a Bahia, registrou 7.487 mortos no total, sendo 4.522 jovens e 6.798 negros. Porém, os dados são contestados pela Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA), que afirma desconhecer a metodologia do atlas, realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Com dados de “outros institutos”, o governo do estado informa que foram registrados 6.321 assassinatos naquele ano.

Já a pesquisa conduzida pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), a Bahia é o terceiro estado com maior número de mortes por intervenções policiais, atrás apenas do Rio de Janeiro, com 925 casos ao longo de 2016, e de São Paulo, com 856. Os números usados foram fornecidos pelas secretarias de segurança pública dos estados, embora, no restante do Atlas, sejam utilizados números Datasus, do Ministério da Saúde.

Sendo que, a Bahia é o estado do Nordeste com maior número de crianças e jovens, com até 19 anos, vítimas de arma de fogo, segundo levantamento divulgado em 2019, feito pela Sociedade Brasileira de Pediatria. Segundo os dados, mais de 13 mil casos foram registrados no estado entre os anos de 1997 e 2016. Em nível nacional, a Bahia ocupa o terceiro lugar, ficando atrás apenas de São Paulo e Rio

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