Nos últimos quatro anos, 99% dos presos em flagrante em Salvador eram negros e pobres, segundo uma pesquisa da Defensoria Pública do Estado da Bahia (DPE-BA). Os dados foram divulgados pelo defensor público geral Rafson Saraiva Ximenes, em entrevista à Rádio Metrópole nesta segunda-feira (09).
A pesquisa analisou o perfil socioeconômico dos detidos em flagrante e encaminhados a audiências de custódia em Salvador. O alto índice surpreendeu os responsáveis pela pesquisa.
“A gente já imaginava e era fácil deduzir que a maior parte das pessoas submetidas a audiências de custódia eram negros e pobres. Mas o percentual foi muito alto. Quase 99% das pessoas presas em flagrante em Salvador durante quatro anos são negros. Quase 99% tem renda de até dois salários mínimos. Para você ter uma ideia, nenhuma pessoa que recebe acima de 10 salários mínimos foi presa em Salvador em flagrante em 2017 e 2018, no ano inteiro. Isso foi um recorte muito forte”, declarou o defensor público Rafson Saraiva Ximenes
Rafson acredita que a pesquisa utilizou a maior base de dados sobre o tema já coletada no País, com mais de 17 mil pessoas presas em flagrante e submetidas a audiências de custódia. Segundo defensor, o resultado do levantamento evidencia a necessidade de não ignorar a existência do racismo estrutural. Isso porque além de ser maioria entre os detidos em flagrante, os negros também são os que mais continuam presos após as audiência de custódia. O percentual das pessoas que dizem ter sofrido violência no momento da prisão tam
Foto : Divulgação/ DPE bém é maior entre negros do que entre as pessoas brancas.
“Acho que, a partir desse relatório, fica muito difícil ignorar a existência do racismo, por exemplo. Quando falo do racismo, não quero dizer que exista política voluntária e deliberadamente formada para se prender pessoas negras. Mas o racismo estrutura nossa sociedade e nossa forma de pensar. Ele está claramente presente no momento de decidir quem é preso e quem é solto”, explica.
O defensor ressalta a importância da educação, já que existe uma correlação entre os presos acusados de crimes e a ausência de educação formal.
“Importante perceber esses dados para entender que, quando se fala em segurança pública, a responsabilidade pelo problema não é apenas da polícia. Existem causas da insegurança que a polícia não tem como enfrentar”, conclui o defensor público.
Fonte: Metro 1