Jornalista Delis Ortiz chama negros de “descendentes de escravos” durante Jornal Nacional

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A abertura do Jornal Nacional desta terça-feira (21) foi sobre o Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé. Logo no início da matéria a jornalista Delis Ortiz refere-se aos negros presentes em uma solenidade no Palácio do Planalto como “descendentes de escravos”, um termos que não deve ser utilizado.

A historiadora Angélica Ferrarez explica o porque não devemos usar esta expressão: “O equívoco de falar descendente de escravos é justamente naturalizar um processo que não foi natural. Ninguém nasce escravo. As pessoas foram escravizadas. Então a linguagem inclusiva é a primeira atenção que a gente dá quando a gente pensa em encabeçar a luta antirracista“, explica.

Delis Ortiz é uma jornalista experiente que já foi correspondente internacional da Rede Globo em Buenos Aires de 2011 a 2015. A partir de 2016 voltou ao posto de repórter em Brasília onde permanece até hoje. Apesar da experiência, a jornalista demonstrou desconhecer o que é a linguagem antirracista de descolonizada.

Angélica Ferrarez ressalta, justamente, a importância da descolonização da linguagem: “A nossa linguagem ela é muito colonial, muito colonizada. Pensar nessa linguagem é justamente pensar na comunicação de cotidiano, na comunicação do dia a dia. Essa mídia hegemônica é uma mídia que alcança muito, essa mídia começar a se educar, a ter letramento racial, é uma grande contribuição para luta antirracista. Não dá para em 2023, no século 21, com todo esse debate, falar em descendentes de escravos“, ensina a historiadora.

jornalista Delis Ortiz chama negros de “descendentes de escravos”

A jornalista Midiã Noelle, que esteve presente no evento citado na matéria e até apareceu nas imagens, comentou sobre o fato em suas redes sociais: “Esse tipo de discurso que repetido cotidianamente destrói a nossa auto estima e nos coloca em um espaço de “coisificação”. Somos descendentes de pessoas sobreviventes a uma das maiores violências que foi o tráfico transatlântico de corpos pretos oriundos do continente africano. Enquanto as pessoas não entenderem a força e o impacto das palavras, nada vai mudar. Muito bom a visibilidade da pauta. Mas passar um erro desse, num dia como hoje, é como o tapa que a personagem de Lília Cabral, Teresa, na novela “Viver a vida”, deu na personagem de Helena, de Tais Araujo, na semana do dia da consciência negra há anos atrás. A gente engole seco, rasgando. Meio que sem entender de onde veio a porrada. Mas a gente sente“, postou.

A historiadora Angélica Ferrarez ressalta ainda a importância de lembrarmos que somos descendentes de trabalhadores: “Silvio Almeida foi a primeira pessoa que eu vi chamar a atenção para o fato de sermos descendentres do movimento de trabalhadores. Gosto muito da ideia de pensar que eu sou descendente de um pai que foi pedreiro, umamãe empregada doméstica. Eu estou falando de quem é chão de fábrica desse país. De quem trabalha, de quem bota a mão na massa. Além disso, somos descendentes sim de reis e rainhas, de trabalhadores, de feiticeiras, de feiticeiros, de parteiras, de rezadeiras e benzedeiras“, conta.

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