79% das pessoas trans vítimas de assassinatos são negras, revela levantamento

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A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) divulgou o Dossiê Assassinatos e Violências contra pessoas Trans e revela que o número de assassinatos contra o público caiu de 140, em 2021, para 131 em 2022, mas ainda é considerado elevado. Mantendo a média de 121 mortes intencionais de pessoas trans desde 2008, quando o estudo começou a ser realizado.

Os dados mostram ainda que 79,8% das vítimas dos assassinatos são pessoas trans negras. De acordo com o levantamento, no ano de 2021, esse percentual era de 76%. Já o de pessoas brancas violentadas caiu de 24%, em 2021, para 20% em 2022.

Do total de mortos, 79% eram trans negros – Foto: NP Dados

“As informações levantadas nos últimos anos nos revelam que uma pessoa trans apresenta muito mais chances de ser assassinada do que uma pessoa LGBT cisgênera. Porém, essas mortes acontecem com maior intensidade entre travestis e mulheres trans, principalmente contra negras”, aponta o relatório Dossiê Antra 2022.

O Dossiê mostra também que os números podem apresentar subnotificação, uma vez que a etnia ne sempre é registrada nas ocorrências. Ainda segundo o documento, “o número de vítimas sem identificação de cor nos boletins de ocorrência explodiu a partir de 2020, após protestos antirracistas por George Floyd e Beto Freitas”, revela.

Gênero

A violência doméstica tem crescido no Brasil, segundo dados do Anuário de Segurança Pública e quando se fala de violência contra mulheres trans, os números tornam esses casos mais evidentes ainda. 99% das vítimas de assassinatos no último ano foram mulheres trans. Das 131 pessoas que perderam a vida em decorrência de violência, 130 eram mulheres e apenas um homem trans.

“A partir desses dados, podemos concluir que uma pessoa transfeminina (travestis e mulheres trans) tem até 38 vezes mais chances de ser assassinada, sobretudo no espaço público que uma pessoa transmasculina ou não binária, considerando assim, que a sua identidade de gênero e os estigmas em torno das travestilidades como fatores de alto risco”, analisa o relatório da Antra.

Entre os anos de 2017 e 2022, foram 23 assassinatos de homens trans (2,5%), enquanto travestis e transsexuais femininas somam 889 vítimas (97,%%) no mesmo período. “Existe um perfil prioritário que tem sido vitimado pela violência transfóbica e o assassinato, que é a travesti ou mulher trans, negra, pobre, periférica, que é percebida dentro de uma estética travesti socialmente construída e, principalmente, profissionais do sexo que atuam na prostituição nas ruas”, aponta.

Praticamente todos os óbitos foram de mulheres trans – Foto: NP Dados

Regionalização

O Estado de Pernambuco é o mais letal para travestis e transsexuais. Somente no ano de 2022, foram 13 assassinatos e vem seguido pelos Estados de São Paulo e Ceará com 11 óbitos cada um. Minas Gerais (9), Rio de Janeiro (8) e Amazonas (8) aparecem em seguida. Do outro lado, três Estados não registraram nenhuma morte de pessoas trans em 2022: Acre, Tocantins e Amapá.

No somatório dos últimos cinco anos, entre 2017 e 2022, São Paulo lidera os crimes contra o público, registrando 116 vidas ceifadas. Logo em seguida, aparece o Ceará, com 84 mortes, e Bahia, totalizando 84 óbitos de travestis e transsexuais.

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A maior concentração de mortes ficou com a Região Nordeste do país, atingindo 52 óbitos, 40,5% dos casos no país. A Região Sudeste contabilizou 35 casos, 27%; e o Centro-Oeste totalizou 17 casos, 13% do total de assassinatos no país, em 2022.

Além dos casos de violência contra travestis no Brasil, a Antra também monitora pessoas trans fora do país e, no último ano, foram registradas duas mortes no exterior. Uma na França e outra na Espanha. Ao longo dos últimos seis, a Antra observou que, entre 2017 e 2022, 12 travestis/mulheres trans foram
assassinadas fora do Brasil, sendo 5 casos na Itália; 2 casos em Portugal; 2 casos na França e Espanha e; 1 caso na Bélgica.

“Seja pelas condições em que se encontravam ou em decorrência do êxodo travesti a muito anos travestis buscam refúgio fora do país, seja para sobreviver à violência ou conquistar melhores condições de vida”, afirma o documento.

Etarismo

Aliado à subnotificação da questão étnica, não houve registro de idade das vítimas em 37 casos. Dos 94 restante, cinco vítimas eram adolescentes, entre 13 e 17 anos; 49 vítimas estavam entre os 18 e 29 anos; e 30 vítimas entre 30 e 39 anos. O estudo revela que a faixa etária em que o ser humano mais produz, entre 18 e 39 anos, 79 pessoas perderam a vida de forma violenta.

“Dentre as pessoas trans assassinadas em 2022, 89% delas tinham entre 15 e 39 anos. A idade média das vítimas foi de 29,2 anos. Em um contexto geral, a idade média das vítimas se manteve no mesmo índice de 2021”, aponta.

O Dossiê Assassinatos e Violências contra contra travestis e transexuais brasileiras é produzido anualmente pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA).

Igor Rocha

Igor Rocha

Igor Rocha é jornalista, nascido e criado no Cantinho do Céu, com ampla experiência em assessoria de comunicação, produtor de conteúdo e social media.

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