O ano de 2023 começa com o pé direito para a atriz Tulanih, 34 anos. Depois de viver uma manifestante na série “Falas Negras”, de 2022, da plataforma de Streaming GloboPlay, a atriz dá vida à delegada Inês, na série ‘Olhar Indiscreto’, da Netflix.
“Eu tenho a Inês como um presente! É tão bom poder ver mulher preta no audiovisual fazendo personagens onde a questão racial não é o que está em voga. Acho que pensar e debater o racismo é extremamente necessário e temos que tomar as rédeas das narrativas. Mas é tão importante a representatividade também desses mesmos corpos ocupando lugares, espaços onde podem exercer suas subjetividades”, comenta.
Ela lembra ainda que, historicamente, as pessoas negras são apagadas das narrativas e é de suma importância lutar para alcançar lugares que sempre foram relegados aos negros. “Vivemos em um mundo que se esforça no apagamento do nosso legado e potência. Até porque um ator ou uma atriz negra pode, sabe e vai fazer muito bem qualquer papel. Nossos corpos precisam sim dar voz à personagens como delegados, médicos, políticos, psicólogos, cientistas, pois essas pessoas existem no mundo real. Existem na história”, complementa.
Ainda segundo Tulanih, a sociedade ainda tenta impor uma certa autoridade sobre o que o negro sente, vive ou toma posição. “As pessoas precisam aceitar, reconhecer e parar de nos impor uma vigilância que se pretende ‘autorizar’ o que podemos ou não representar. Me orgulho muito da manifestante ativista que interpretei em ‘Falas Negras’ tanto quanto da Inês, que é uma mulher que comanda uma delegacia inteira”, afirma.
Cenário audiovisual
A atriz ressalta que o audiovisual brasileiro está em um momento de mudança e que os negros precisam se qualificar para ocupar espaços que ainda não são oferecidos, como grandes conglomerados de comunicação ou produtoras de impacto mundial.
“Acho que avançamos muito, por exemplo, ver o Lázaro Ramos ocupando o cargo que ele ocupa na Amazon é incrível. Ou até mesmo a Mayara Aguiar, que recentemente assinou uma teledramaturgia como diretora. Mas o que eu penso é que ainda é muito pouco diante do elenco extraordinário que dispomos de profissionais negros de todas as áreas no audiovisual que não são empregados e não tem espaço”, analisa.
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“Ainda é um nicho seleto e, os poucos que conseguem, caminham muitas vezes solitários, quando não, precisam mostrar serem infinitamente mais capazes do que o comumente exigido para que sejam respeitosamente reconhecidos. Sinto que há um debate poderoso acontecendo e que sim, portas estão se abrindo, mudanças estão em curso, mas a manutenção da qualidade do ambiente de trabalho desses profissionais, bem como a promoção de oportunidades estão longe de se esgotar. Temos muita caminhada”, diz Tulanih.