Um áudio de Paulo Bing, presidente do Grêmio Náutico da União, clube em Porto Alegre onde o cantor Seu Jorge sofreu ataques racistas na última sexta-feira (14), tornou-se público depois que alguém da diretoria o divulgou, como confirmou Bing. No áudio, o chefe da entidade atribui os ataques racistas à manifestação política do cantor, que teria feito um “L” durante a apresentação. Além disso, ele também critica a roupa de Seu Jorge e diz que o cantor fumou no palco.
“Eu fiquei chocado com a maneira que ele chegou, porque o material de divulgação que nos forneceram era o Seu Jorge com um terno, uma roupa bem aprazível e ele chegou com aquele moletom, não sei porque. Meio que dissociado ao clima do evento”, diz o homem do áudio que Paulo Bing confirmou ser ele.
Ao jornal O Globo, o presidente do clube de Porto Alegre disse que o áudio de cinco minutos é de sua autoria e que foi vazado por alguém de sua diretoria, apesar de não saber quem foi essa pessoa. No áudio, Paulo Bing também critica o fato do cantor fumar no palco: “[…]E depois disso, fumando no palco, daí me disseram que era uma outra substância…”
O presidente ainda diz que em determinado momento do show, Seu Jorge fez um ‘L’ com a mão, manifestando apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo Bing, a manifestação política era “completamente vedada durante o show”, pois isso estava previsto no contrato assinado pelo artista.
Ao longo do áudio, Paulo também critica a forma como a mídia está apresentando o episódio. Em dado momento ele diz: “[…] Essas notícias do WhatsApp são de pessoas medíocres que querem ganhar notoriedade. Eu sei que por trás deles têm pessoas maiores que estão querendo tirar aproveitamento político do episódio.”
Dois dias depois do ocorrido, houveram inúmeras manifestações em defesa de Seu Jorge e figuras públicas do Rio Grande do Sul, como o advogado renomado Lenio Streck, falaram sobre o racismo no estado. Sobre essa discussão, Paulo Bing comentou no áudio:
“A maneira como eles retratam o União e a nós como ‘100% brancos’ e nós escolhemos um show de uma pessoa negra, já mostra por aí que não tem preconceito nenhum. Eu entendo isso, pelo menos. Mas a mídia ‘tá tentando’, a mídia de WhatsApp, tá tentando ver se pega e cola.”
Ao final do conteúdo, o presidente diz que não viu nada acontecendo, apesar de estar perto do palco:
“E eu que estava bem pertinho ali, eu não vi nada, eu vi que houve um incidente depois de um certo momento no palco e vi ele sair e não se apresentar mais. Não cumpriu a cláusula contratual e fez um gesto político, que eu não sei se foi antes ou depois que gerou a reação do público que se sentiu ultrajado.”
Paulo diz ainda que vai acionar as cláusulas do contrato para processar o artista e ‘difamadores’ do episódio.Em apoio ao cantor, um ato antirracista será organizado com concentração na Encol, uma praça de Porto Alegre, no próximo sábado (22) às 16h.
O Notícia Preta entrou em contato com o Grêmio Náutico União mas até o fechamento desta matéria, questionando se o presidente confirma se o áudio atribuído a ele é realmente dele e se gostaria de comentar o assunto.
O NP também perguntou se a apuração interna dos fatos que foi anunciada pelo Clube Náutico da União, em nota divulgada no dia 16 de outubro, já identificou os autores dos ataques racistas e, se a partir dessa apuração, alguma decisão já foi tomada. Até a publicação desta matéria não obtivemos retorno.
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