O perfil conjugal das candidatas a uma vaga na Câmara dos Deputados nas eleições deste ano foi tema de um levantamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e revela diferença na conjugalidade das mulheres negras e não negras.
Segundo o estudo, 43,6% das mulheres negras, candidatas à deputadas federais são solteiras, contra 32,7% das mulheres brancas. Ainda segundo o levantamento, 41,2% das mulheres brancas são casadas, 21,6% divorciadas e separadas. Na outra ponta, 37,1% das mulheres negras são casadas e 15,4%, separadas ou divorciadas.
Para a Flávia Biroli, professora do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), um dos aspectos que mais impactam a vida das mulheres ainda é a sociedade patriarcal. “Se tomamos os estudos e dados disponíveis sobre divisão sexual do trabalho e usos do tempo, podemos levantar como hipótese que a sobrecarga de trabalho assumida pelas mulheres com o casamento, em especial quando elas têm filhos, é um obstáculo adicional para a sua participação na política, sem que o mesmo aconteça para os homens. Códigos culturais de natureza patriarcal podem também se traduzir em maior apoio familiar para eles, quando decidem trilhar a carreira política”, afirma.
Escolaridade
Atualmente, as mulheres têm níveis de educação formal superiores aos dos homens, no entanto, ainda existe um fosso entre a formação superior entre mulheres negras e brancas. De acordo com a pesquisa, a diferença de pontos percentuais chega a 15,2 entre as mulheres brancas e negras, em favor das primeiras. “A diferença de gênero e raça aparecem mais acentuadamente quando se trata de candidaturas à reeleição que são, em geral, de pessoas mais velhas, geralmente casadas e, sendo mulheres, mais escolarizadas; revela-se, assim, o perfil predominante do provável parlamento que virá a se constituir. O problema está no afunilamento que leva às formas atuais de sub e sobrerrepresentação”, analisa.
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Ao todo, o TSE recebeu 3.596 registros de candidaturas de mulheres à Câmara Federal, deste total, 1.440 são negras. Em 2018, foram 2.767 mulheres e 937 eram negras. Em números absolutos, trata-se de um crescimento de 30% no número de candidatas mulheres e de 54% dos candidatos negros, em comparação com a eleição passada.