Dia 2 de janeiro de 2022 é uma data que Célio da Silva Rodrigues, (36), quer esquecer, mas não consegue. Seu filho, Ítalo Silva Rodrigues, 17 anos, foi assassinado, em Londrina (PR), por agentes da Polícia Militar do Paraná, por volta das 19h. No entanto, as dificuldades, segundo Célio, não pararam com a dor da perda do filho. Célio relatou à reportagem do NP que vem sofrendo ameaças de policiais depois que registrou boletim de ocorrência. “Eles já vieram até na porta de casa ‘tá’ difícil. Tenho um outro filho, de 14 anos, e tenho muito medo que eles façam alguma coisa com ele também”, desabafa Célio.
Entre os anos de 2009 e 2019, segundo o Atlas da Violência, houve um aumento de 59,5% nos crimes violentos no estado do Paraná, sendo que a taxa de homicídios de jovens chega a 35,5%. Quando se trata a cor da pele, a taxa homicídios contra os jovens negros teve um aumento de 14,8%, entre 2009 e 2019, de acordo com o Atlas da Violência. Em 2020, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2021, foram 6.416 civis mortos por intervenções de policiais civis e militares da ativa, contra 194 policiais vitimados fatalmente.
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“Eles [polícia] pediram para eu levar a certidão de óbito do meu filho em um endereço, no Jardim Brasília. Cheguei lá e é uma casa comum e não tinha nenhuma convocação formal para mim”, informa.
Além disso, segundo Célio, alguns agentes, na casa que ele foi entregar a certidão de óbito de Ítalo, falaram para ele tomar cuidado para “não cair da escada”. “Estranhei que eles não pediram meus documentos, não registraram meu depoimento. Só me levaram em uma sala e começaram a me fazer um monte de perguntas. Como eu não respondi nada, eles ficaram me olhando, durante uns 40 minutos, como se quisessem me intimidar”, completa.
Entenda o caso
Segundo informações do pai do rapaz, um amigo chamou Ítalo para ir na casa de umas meninas. Indo pra lá, encontraram com uma viatura do Batalhão de Choque da PM do Paraná, que apontou a arma e começou a atirar em direção ao carro que estavam os dois jovens. Ainda de acordo com Célio, o rapaz que dirigia o veículo ficou nervoso e saiu em disparada e bateu o carro. “Meu filho havia sido atingido nas costas, com muita dificuldade abriu a porta do carro, com as mãos na cabeça e pedindo para eles não matarem. Como a rua estava cheia, os policiais colocaram a viatura na frente, para as pessoas não verem e começaram a atirar no meu filho. Ele foi morto com dois tiros nas costas e vários no abdômen e nas pernas”, lamenta.
De acordo com algumas testemunhas, Ítalo desceu do carro e colocou as mãos na cabeça, em sinal de rendição. “O policial do Choque chegou e deu dois tiros nas costas dele, tentou correr mais um pouco, mas caiu no chão e pediu ‘pelo amor de Deus’, para não matá-lo. Mas eles colocaram a viatura na frente e ‘finalizou’ o menino”, conta uma das testemunhas.
Respostas
A reportagem do Notícia Preta entrou em contato com a Polícia Militar do Paraná, via e-mail, solicitando um posicionamento da corporação a respeito do ocorrido, mas, até o fechamento desta matéria, não recebemos nenhum retorno da PM. O NP deixa o espaço aberto para que a corporação se manifeste, caso queira, como prática do bom e correto jornalismo.
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