Símbolo da resistência negra, Congado pode se tornar patrimônio cultural de MG

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O Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG) iniciou na última terça-feira (04) o cadastramento dos Reinados e Congados de Minas Gerais para o processo de formalização de patrimônio cultural imaterial do Estado. O levantamento oficial sobre os nomes, localizações, modos de devoção e outras características dos grupos, em Minas Gerais, foi iniciado em 2013 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) mas, até o momento não foi concluído.  O estudo é uma solicitação dos próprios grupos, de pesquisadores e outros membros da sociedade civil.

Guarda dos Arturos de Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte – Foto: Iepha

A gerente de Patrimônio Cultura e Imaterial do Iepha, Debora Silva, explica que a estimativa é que em cada um dos 853 municípios no estado exista pelo menos uma Guarda de Congado, sendo que em algumas cidades existem mais de 40. “O cadastro é um primeiro momento da pesquisa para a proteção desse bem cultural como patrimônio. Então, a gente realiza o cadastro e vai recebendo informações. Enquanto isso, fazemos pesquisa de campo, entrevistas, fotografias, pesquisa documental e todo esse material vai gerar o que a gente chama de dossiê de registro”, explica Silva sobre o documento final que é encaminhado ao Conselho de Patrimônio para votar a pertinência do bem como patrimônio cultural.  

A gerente ainda explica ainda que, nesse levantamento, pretende-se verificar a diversidade de guardas como as de Moçambique, Congo, Catopês, Penachos, Caboclinhos, dentre outras. Todas expressões da cultura negra que se sincretizaram em manifestações religiosas como sinal de resistência ao longo dos anos. “Tem lugar que chama Reinado e não Congado, tem lugar que se chama Congada. As perguntas se direcionam para a gente entender a diversidade de devoções, também, muitas são do Rosário, mas vai ter com certeza outras devoções. Uma é São Benedito, São Jorge dentre outras”, explica Silva.

O professor e sambista, Carlos Warley Vieira de Castro, conhecido como Mestre Saúva, relembra que as guardas de Congado e Moçambique se mantém ainda vivas nos dias de hoje devido ao modo como a tradição é passada entre os mais antigos, conhecidos como mestres, até as crianças, o que muitas vezes acontece dentro de uma mesma família, mas não exclusivamente. “A guarda de Moçambique, em Sete Lagoas, tem 70 componentes, desses 30 são crianças com idades entre 02 e 14 anos. Isso nos dá uma sinal de que essa manifestação vai perdurar, o que é para a gente um alento” ilustra Saúva ao destacar “e isso se dá principalmente ao trabalho realizado por esses mestres que transmitem essa manifestação para os mais novos, acolhendo-os”.

Guarda de Moçambique Treze de Maio de Nossa Senhora do Rosário – Foto: Iphan

Músicas, danças e resistências negras do Congado

O Reinado ou Congado é uma manifestação cultural, e religiosa, afro-brasileira, que se enraizou em Minas Gerais há pelo menos quatro séculos, como um dos símbolos de resistência dos negros que foram sequestrados e trazidos para o Brasil para serem escravizados. A origem, representada nas festas, remete aos ritos de coroação dos reis e rainhas africanos. A tradicional festa costuma reunir diversas guardas, no dia 13 de Maio, data atribuída a Nossa Senhora do Rosário, pelos católicos.

Sincrética, a data também é dedicada, atualmente, a Rainha do Congo do Estado de Minas Gerais. “A primeira coisa que quiseram quebrar com a chegada desse escravizado no Brasil  foi a sua religião, porque existia o projeto base de que a religião cristã dominasse de todo cenário desse país que estava sendo colonizado”, explica Saúva ao lembrar que toda cultura negra no país foi e ainda é demonizada, primeiro pela Igreja Católica e depois pelos neopentecostais.

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A festa possui ritos de coroação e honra a Rainha e Rei do Congo, com a presença de mestres, capitães, danças, instrumentos de batuque e músicas. As canções podem ser orações, contações de histórias vindas da tradição oral ou músicas de resistência como conta Saúva. “Você vai chegar dentro de uma guarda de Congo e às vezes você não vai entender o que eles cantam, algumas pessoas chegam a falar ‘é porque a dicção é ruim’. Não é porque a dicção é ruim. É a estratégia de não mostrar para o colonizador, para o opressor, o que estava sendo cantado”, explica o sambista que ainda observa que “muitas coisas que eram cantadas em Bantu ou Iorubá, eles transformaram em ‘lêlêlê’, ‘lálálá’, porque os escravizados não podiam cantar na língua pátria deles”, finaliza.

Membros dos grupos de Reinados e Congados e prefeituras podem realizar o cadastro que, de acordo com o Iepha, permanecerá constantemente aberto e pode ser preenchido AQUI.

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