Apesar do aumento do acesso de jovens negros à educação formal, a presença desse grupo nas ocupações de maior remuneração segue profundamente desigual no Brasil. É o que aponta o Índice ESG de Equidade Racial da Juventude Negra (IEERJN), elaborado pelo Pacto de Promoção da Equidade Racial em parceria com a Fundação Itaú, com base em dados da PNAD Contínua, RAIS, Censo Demográfico e Censo da Educação Superior.
Segundo o levantamento, a exclusão racial se intensifica justamente nos níveis mais altos de escolaridade e renda. Em 2023, o índice de equidade para jovens negros com pós-graduação no mercado formal foi de aproximadamente -0,38, enquanto entre aqueles com ensino superior completo ficou em torno de -0,29. Já entre pessoas com ensino fundamental completo ou incompleto, os indicadores se aproximam da equidade, revelando um padrão de segregação ocupacional que empurra a população negra para funções de menor remuneração.

As carreiras mais afetadas por esse desequilíbrio incluem áreas como engenharia, direito e tecnologia, especialmente nos cargos que pagam acima de R$ 15 mil mensais. Nessas ocupações, a presença de jovens negros pode ser até 80% menor em comparação a profissionais brancos, segundo os dados consolidados do índice.
Mesmo quando a análise inclui trabalhadores informais, o cenário pouco se altera. A PNAD Contínua indica que jovens negros com ensino superior seguem enfrentando barreiras estruturais de inserção profissional, mantendo índices elevados de exclusão. O levantamento aponta que o avanço educacional não tem sido acompanhado por oportunidades equivalentes no mercado de trabalho.
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O recorte de gênero aprofunda ainda mais as desigualdades. Mulheres jovens negras concentram-se na base da pirâmide salarial e enfrentam simultaneamente discriminações de raça e gênero. Em 2023, os índices de exclusão para mulheres negras com ensino superior chegaram a cerca de -0,31, e para aquelas com pós-graduação, -0,33, evidenciando obstáculos persistentes ao acesso a cargos de liderança e melhores salários.
Regionalmente, os dados mostram que Sudeste e Sul apresentam os maiores níveis de exclusão de jovens negros nas ocupações mais bem remuneradas, com destaque negativo para o estado de São Paulo. Já Norte e Nordeste registram maior presença negra no mercado formal, ainda que concentrada em postos de menor renda.
Os resultados serão apresentados durante a 4ª Conferência Empresarial ESG Racial, em São Paulo, e a próxima etapa da pesquisa prevê escutas qualitativas com jovens negros de diferentes territórios, incluindo mães solo, pessoas LGBTI+ e populações periféricas, para aprofundar a compreensão sobre os impactos do racismo estrutural nas trajetórias profissionais.










