Achille Mbembe alerta para risco de nova onda de golpes de Estado em África após crise na Guiné-Bissau

Achille Mbembe

Filósofo camaronês alerta para nova vaga de golpes de Estado em África, após crise na Guiné-Bissau - Foto: Divulgação

O filósofo e intelectual camaronês Achille Mbembe afirmou que o continente africano pode enfrentar uma nova vaga de golpes de Estado caso não sejam promovidas reformas estruturais profundas nos sistemas políticos e económicos. O alerta foi feito em entrevista ao portal português Sapo, no contexto da crise recente na Guiné-Bissau, onde militares assumiram o controlo das instituições antes da divulgação oficial dos resultados das eleições presidenciais.

Na Guiné-Bissau, o episódio envolveu a detenção do presidente, a suspensão do processo eleitoral e a interrupção do funcionamento regular das instituições democráticas, reacendendo preocupações sobre a estabilidade política em países africanos com histórico de interferência militar. Para Mbembe, o caso não é isolado e revela fragilidades que se repetem em diferentes regiões do continente.

Achille Mbembe
Filósofo camaronês alerta para nova vaga de golpes de Estado em África, após crise na Guiné-Bissau – Foto: Divulgação

Segundo o filósofo, a combinação entre instituições políticas frágeis, desigualdades económicas profundas e desconfiança generalizada nas elites governantes cria um ambiente propício para intervenções militares. Ele ressalta que, em muitos países africanos, a exclusão social, o desemprego e a concentração de renda continuam afetando majoritariamente populações negras e jovens, ampliando tensões e minando a legitimidade dos governos civis.

Mbembe destaca o papel central da juventude africana nesse cenário. Cada vez mais mobilizados, conectados e conscientes das limitações das estruturas políticas atuais, jovens têm pressionado por mudanças, participação e justiça social. Essa mobilização, segundo ele, pode ser tanto um fator de transformação democrática quanto um elemento explorado por grupos que defendem soluções autoritárias diante do descrédito institucional.

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O filósofo rejeita qualquer tentativa de romantizar golpes de Estado, classificando-os como sintomas claros de falência institucional. Para Mbembe, a repetição desses episódios tende a produzir ciclos prolongados de instabilidade, com impactos diretos sobre direitos civis, economia, políticas sociais e condições de vida das populações mais vulneráveis.

Além das reformas internas, Mbembe defende maior responsabilidade da comunidade internacional. Ele afirma que organismos regionais e parceiros globais precisam apoiar processos democráticos, fortalecer mecanismos de mediação e evitar respostas seletivas ou oportunistas. Sem esse apoio, alerta, cresce a tentação de soluções autoritárias, cujas consequências sociais e económicas podem se espalhar por todo o continente africano.

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