A vereadora Talita Galhardo (PSDB-RJ) gerou forte reação pública após publicar um vídeo nas redes sociais pedindo que moradores do Rio de Janeiro deixem de distribuir quentinhas para pessoas em situação de rua durante o período de Natal. Para a parlamentar, a prática “estimula a permanência nas calçadas” e, segundo ela afirmou, “acaba ajudando a aumentar índices de criminalidade”. A fala rapidamente viralizou e foi amplamente criticada por movimentos sociais, especialistas em direitos humanos e internautas.
No vídeo, Galhardo afirma que a oferta de comida reforçaria a escolha de permanecer nas ruas, argumentando que existem vagas em abrigos municipais. Ela diz que muitos não aceitariam acolhimento devido às regras das unidades, como horários rígidos, separação por gênero e proibição do uso de drogas. A declaração desconsidera, porém, debates recorrentes sobre a insuficiência e a inadequação das políticas públicas de acolhimento, além de ignorar que a fome, especialmente entre populações vulnerabilizadas, é uma emergência humanitária.

A vereadora também criticou iniciativas solidárias, como a ceia de Natal organizada por igrejas na Barra da Tijuca. O posicionamento foi lido por organizações sociais como uma tentativa de criminalizar a pobreza e responsabilizar indivíduos em situação de rua pela violência urbana. Nas redes, comentários denunciaram a falta de sensibilidade da parlamentar. Um dos mais compartilhados dizia: “Cama quente, salário em dia, e a culpa é de quem dá comida a quem tem fome?”
Talita Galhardo, que já protagonizou polêmicas envolvendo a vestimenta de colegas na Câmara e discussões acaloradas sobre regulamentação de plataformas de aluguel por temporada, tornou-se conhecida por pautas conservadoras. É coautora do PL apelidado de “anti-Oruam”, que busca restringir shows que, segundo os autores, fariam apologia ao crime.
Especialistas destacam que reduzir doações solidárias não enfrenta as causas estruturais que empurram milhares de pessoas para a rua, como desemprego, crise habitacional, racismo institucional e cortes em políticas sociais. Para movimentos que atuam no tema, discursos que associam pobreza à criminalidade reforçam estigmas e afastam o debate de soluções reais.
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A repercussão do caso reacende discussões sobre o papel das autoridades no enfrentamento à desigualdade e sobre como discursos públicos moldam percepções sobre populações vulneráveis.
O debate também ocorre em um cenário nacional de crescimento expressivo da população em situação de rua. Segundo levantamento do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com População em Situação de Rua (OBPopRua/UFMG), o Brasil registrou 358.553 pessoas vivendo nas ruas em outubro. A concentração é maior no Sudeste, que reúne cerca de 60% desse total. Somente o estado de São Paulo contabiliza 148.730 pessoas, sendo 99.477 na capital. No Rio de Janeiro, são 33.081 pessoas, seguido por Minas Gerais, com 32.685. Os dados, obtidos a partir do CadÚnico, reforçam que a crise é estrutural, complexa e longe de ser solucionada com a redução de ações solidárias, como sugeriu a vereadora.









