m estudo conduzido pelo sociólogo Mark Rank, da Universidade Washington em St. Louis, revela um cenário pouco conhecido sobre a pobreza nos Estados Unidos: cerca de 60% dos adultos do país viverão pelo menos um ano abaixo da linha da pobreza, e 75% enfrentarão pobreza ou uma situação próxima a ela em algum momento da vida. Os dados desmontam a ideia de estabilidade econômica contínua e apontam para um processo estrutural que atinge milhões, especialmente trabalhadores, idosos e comunidades racializadas.
Segundo Rank, três fatores são decisivos para a queda repentina de renda: perda do emprego, emergências de saúde e separação familiar. “A rede de proteção social é fraca e não consegue impedir que as pessoas caiam na pobreza”, explica. Ele destaca que o avanço de empregos com baixa remuneração e benefícios reduzidos contribui para que mesmo quem sempre teve renda regular viva em risco permanente.

A crise, porém, não afeta todos da mesma forma. Pesquisas mostram que 68% dos adultos afro-americanos e 67% dos hispânicos não possuem reservas financeiras para emergências, o que amplia a vulnerabilidade diante de custos médicos, moradia e alimentação. Essa disparidade racial se reflete também na busca por ajuda alimentar: 20% dos americanos recorreram a bancos de alimentos no último ano, segundo o Pew Research Center.
Na Flórida, organizações como o Feeding South Florida relatam aumento expressivo na demanda após a interrupção temporária dos pagamentos do SNAP, programa federal equivalente ao Bolsa Família. O benefício atende 42 milhões de pessoas, mas sua suspensão durante o fechamento do governo agravou a insegurança alimentar de famílias que já viviam no limite.
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Entre idosos, o impacto é ainda mais severo. Um estudo do National Council on Aging indica que pessoas com menos recursos vivem, em média, nove anos a menos que aquelas em melhor situação econômica. Para especialistas, isso evidencia como pobreza, saúde e ausência de políticas robustas se combinam para aprofundar desigualdades.
Rank resume o quadro: “Nos Estados Unidos, costumamos observar a pobreza a partir da culpabilização individual. Mas o problema é estrutural e recai com mais força sobre quem já enfrenta barreiras históricas.”









