Um levantamento realizado por pesquisadores do Centro de Estudos da Favela (CEFAVELA) identificou diferenças térmicas profundas entre favelas e bairros vizinhos em São Paulo durante o último verão. As imagens termais analisadas apontam que regiões como Paraisópolis chegaram a registrar 45 ºC de temperatura de superfície, enquanto o Morumbi, que faz fronteira com a comunidade, marcou 30 ºC no mesmo período. Em Heliópolis, os valores ultrapassaram 44 ºC.
A pesquisa utilizou 19 imagens de satélite do Landsat 8, referentes aos meses de dezembro de 2024 a fevereiro de 2025. Esse tipo de medição capta o calor acumulado em telhados, pavimentos e solo, o que explica números mais altos do que aqueles registrados pelos termômetros do ar.

Os dados ganham dimensão ainda maior quando comparados ao retrato populacional do município. O Censo 2022 do IBGE mostra que mais de 1,7 milhão de moradores vivem em 1.359 favelas, concentradas em apenas 4% da área da cidade. Nessas comunidades, temperaturas de superfície acima de 40 ºC são comuns, especialmente onde há pouca vegetação e elevado adensamento de moradias.
A desigualdade térmica também aparece dentro das próprias favelas. No Capão Redondo, quatro comunidades figuram entre as mais quentes da capital. O Jardim Capelinha/Nuno Rolando alcançou 47,4 ºC, seguido de números semelhantes em Jardim D’Abril II e Basílio Teles. Em contraste, áreas próximas às represas Billings e Guarapiranga registraram valores próximos de 23 ºC, como o Jardim Apurá e o Alto da Riviera.
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Para os autores do estudo, o calor extremo é resultado direto da forma como a cidade foi construída. O desenho urbano, afirmam, influencia a distribuição das ilhas de calor e aprofunda desigualdades já existentes porque populações negras e periféricas ocupam regiões com menos áreas verdes e menor infraestrutura ambiental.
Os pesquisadores defendem intervenções que utilizem elementos naturais, como parques, arborização, jardins de chuva e telhados verdes. Essas estratégias ajudam a reduzir a temperatura e tornam os territórios mais resilientes. Eles afirmam que o debate climático precisa considerar também a dimensão social: o calor revela, em graus Celsius, como a cidade trata seus habitantes.










