A crise climática e a crise habitacional estão profundamente conectadas em um ciclo: os desastres socioambientais destroem moradias e infraestrutura urbana, agravando a crise habitacional; e, ao mesmo tempo, a falta de acesso à moradia digna empurra grupos vulnerabilizados para áreas de risco, reforçando o racismo ambiental e ampliando os efeitos da própria crise climática, principalmente para pessoas negras.
Essa é a principal mensagem do relatório “Sem Moradia Digna, Não Há Justiça Climática” e do documentário “O morro desceu e era Carnaval” que foram lançados pela ONG Habitat para a Humanidade Brasil no dia 13 de novembro, em Belém (PA), durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30).

A publicação propõe uma nova leitura sobre o ciclo que liga o direito à moradia digna à temática da justiça climática, abordando três dimensões fundamentais: adaptação, perdas e danos, e reconstrução. O relatório traz dados de 129 cidades brasileiras e demonstra que áreas de risco concentram 66,58% da população negra, 5,53% com baixa escolaridade e 37,37% dos domicílios chefiados por mulheres, onde a renda média é de R$2.127 (55%) chegando a ser quase a metade em relação à média geral das cidades estudadas.
Além disso, 20,29% desses domicílios se encontram sem esgoto e 2,41% sem coleta adequada de lixo. Os números mostram que vulnerabilidade urbana e desigualdade racial estão profundamente conectadas — e que políticas públicas precisam priorizar esses territórios.
“A população negra chega a ser 10% maior nas áreas de risco do que a média das 129 cidades estudadas, e a renda dos domicílios nas áreas de risco chega a ser quase a metade da média geral. Essas desigualdades revelam como o racismo ambiental e a crise habitacional empurram os grupos mais vulnerabilizados para áreas de risco, e quanto mais gente morando em área de risco, piores vão ser os efeitos da crise climática e eventos extremos. É um ciclo vicioso. É por isso que defendemos que não é possível falar de justiça climática sem tratar da questão da moradia”, conta Raquel Ludermir, gerente de Incidência Política da Habitat para a Humanidade Brasil.
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A publicação convida a refletir sobre três perguntas centrais que moldam o enfrentamento aos desastres socioambientais nas cidades brasileiras: Quem ‘escolhe’ morar em área de risco — e por quê? Para evidenciar o chamado racismo ambiental e desigualdade urbana. Pra onde vai quem não tem pra onde ir? Para discutir as perdas e danos e resposta emergencial a desastres. O que tem sido feito para minimizar o impacto do próximo desastre? Para problematizar as limitações e contradições das ações de adaptação, reconstrução e reparação.









