Túmulo de Madame Satã pode ser tombado pelo Iphan como patrimônio LGBTQIA+

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Madame Satã. Foto: Walter Firmo

O túmulo de Madame Satã, figura lendária da cultura marginal carioca, entrou em processo de tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), com o objetivo de reconhecer e preservar sua memória simbólica e cultural.

Localizado no Cemitério da Vila do Abraão, na Ilha Grande (RJ), o jazigo do transformista João Francisco dos Santos, nascido em Glória do Goitá, Pernambuco, em 1900, já recebeu visita técnica de fiscais do Iphan, em agosto, como parte da etapa inicial do processo. O tombamento pode se estender por até cinco anos.

Madame Satã. Foto: Walter Firmo

A proposição foi protocolada por Baltazar de Almeida, pesquisador de afroturismo e turismo LGBTQIA+, com apoio de entidades culturais. Além da preservação do túmulo, o processo pode incluir outros pontos de memória ligados a Satã na Ilha Grande, transformando o espaço em marco da história negra e queer.

“O Iphan tem buscado reconhecer esses patrimônios como parte essencial da diversidade cultural brasileira”, informou o instituto. Caso aprovado, o tombamento pode se tornar o primeiro de temática LGBTQIA+ no país.

Madame Satã ganhou o nome artístico nos anos 1930, inspirado no filme Madam Satan de Cecil B. DeMille, após participar de um concurso de fantasias no Rio. Tornou-se uma das figuras mais icônicas da Lapa boêmia: transformista, capoeirista, artista e símbolo de resistência para as comunidades marginalizadas.

Durante a vida, João enfrentou 29 processos judiciais, incluindo acusações de homicídios e agressões. Passou 27 anos preso, grande parte deles na Ilha Grande, onde decidiu viver após conquistar a liberdade. Faleceu em 1976, aos 76 anos.

Em 2002, sua história ganhou novo alcance com o filme Madame Satã, dirigido por Karim Aïnouz e estrelado por Lázaro Ramos, retratando sua força, rebeldia e complexidade. Décadas antes, o longa A Rainha Diaba (1974), de Antônio Carlos Fontoura, já havia sido inspirado livremente em sua trajetória.

Hoje, o túmulo de Madame Satã representa muito mais que um local de descanso: é um símbolo de resistência, orgulho e diversidade. O reconhecimento pelo Iphan reforça a importância de preservar memórias que ajudam a compreender o Brasil em toda sua pluralidade.

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