A crença de que apenas roupas neutras, lisas e discretas transmitem credibilidade não é universal, mas resultado de um condicionamento social eurocentrado. É o que defende Cáren Cruz, CEO da Pittaco Consultoria, especialista em Imagem Identitária. Para ela, a cor é mais que um detalhe estético: é ferramenta estratégica de reposicionamento social e político, especialmente para pessoas negras.
“Associar sobriedade à ausência de cor ignora a potência simbólica e comunicacional das estampas, sobretudo em contextos de identidade cultural afro-brasileira e diaspórica. A cor deixa de ser mero acessório e se transforma em ato simbólico e político, um recurso de liderança, visibilidade e autonomia”, afirma a consultora.
Segundo Cáren, a escolha das cores influencia diretamente a forma como cada pessoa é percebida em ambientes de trabalho, relações sociais e até nas redes. Ela explica que a colorimetria analisa não só tons isolados, mas combinações, os chamados “acordes cromáticos”, que podem transmitir mensagens positivas ou negativas. Um exemplo é a junção do amarelo intenso com o preto, reconhecida universalmente como sinal de perigo.

A especialista ressalta que muitas cores ressaltam a luminosidade natural da pele, enquanto outras podem apagar a expressão individual. Isso torna o conhecimento da paleta pessoal uma ferramenta de autoestima e também de comunicação política. “O que observo na prática é que a maioria das pessoas não veste as cores que mais gosta. Entre 70% e 90% do guarda-roupa não corresponde às preferências individuais, porque o ‘dress code’ corporativo ou os códigos sociais ainda ditam o que é considerado apropriado”, aponta.
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Inspirada em pesquisas de Lilian Ried Miller e Eva Heller, Cáren afirma que os métodos tradicionais de coloração aplicados no Brasil não refletem a realidade miscigenada do país. Usados como manuais de proibição, eles reforçam padrões de exclusão e limitam corpos negros que já convivem com narrativas de apagamento social.
À frente da Pittaco Consultoria, Cáren promove cursos, mentorias e workshops que buscam democratizar o acesso à colorimetria preta, defendendo que vestir cor é também um ato de liberdade e pertencimento. “As cores comunicam cuidado, prazer e potência. Quando apropriadas como ferramenta de expressão, deixam de ser tendência e se tornam linguagem ancestral e política”, conclui.