Dois naufrágios ocorridos nesta semana no Mediterrâneo Central deixaram mais de cem refugiados sudaneses mortos ou desaparecidos ao largo da Líbia, de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).
O primeiro acidente aconteceu próximo à cidade de Tobruk, quando uma embarcação com 74 pessoas virou no mar. Apenas 13 conseguiram sobreviver, enquanto dezenas permanecem desaparecidas. No segundo caso, um barco que transportava 75 refugiados rumo à Grécia pegou fogo em alto-mar, resultando em pelo menos 50 mortes confirmadas.
As vítimas integravam o fluxo de milhares de sudaneses que fogem da guerra civil no país, em curso desde abril de 2023, que já deslocou mais de 10 milhões de pessoas, configurando uma das maiores crises humanitárias do mundo. A Líbia, rota de trânsito para quem tenta chegar à Europa, é frequentemente utilizada por traficantes de pessoas, que operam em meio à instabilidade política do país.
Segundo dados da ONU, somente em 2025 foram registradas 456 mortes e 420 desaparecimentos na travessia do Mediterrâneo central, considerada a mais perigosa do mundo. Historicamente, a rota já acumula milhares de vítimas: em 2023, mais de 2.400 migrantes morreram ou desapareceram, e em 2015, ano da maior crise migratória recente, mais de 3.700 pessoas perderam a vida tentando cruzar o mar.
Sudão está em guerra desde abril de 2023 e o conflito já provocou mais de 10 milhões de deslocados internos e externos, empurrando milhares a arriscar a travessia pelo mar. Cerca de 30 milhões de pessoas deslocadas internamente, refugiadas e solicitantes da condição de refugiado vivem na África. Juntas, elas representam quase um terço da população mundial de refugiados.
Organizações humanitárias reforçam que tragédias como essas se repetem diante da ausência de operações regulares de busca e salvamento, do endurecimento das políticas migratórias na Europa e da falta de soluções internacionais para conflitos como o do Sudão.
