De acordo com a pesquisa “Diversidade, Representatividade e Percepção: Censo Multissetorial” da Gestão Kairós, as mulheres negras representam 29% da população do Brasil. Ainda assim, elas alcançam apenas 3% dos cargos de liderança nas empresas, incluindo gerências e outras posições superiores. Esse dado expõe um grande abismo estrutural que permanece, apesar dos discursos sobre igualdade ambiental, social, de governança, e responsabilidade social.
Em 2014, o Brasil passou a reconhecer oficialmente datas importantes para os movimentos negros, ao adicionar o Dia Nacional de Tereza de Benguela, e da Mulher Negra, ao calendário. Tereza foi uma líder quilombola do século XVIII, que liderou o Quilombo do Quariterê, no Mato Grosso (MG), após a morte de seu parceiro. Durante sua liderança, corpos negros e indígenas conseguiram resistir à escravidão por várias décadas.

Apesar da história de Tereza ter sido muitas vezes esquecida, temos, uma vez ao ano, a oportunidade de destacar a importância da mulher negra como líder e estrategista. Tal papel ainda é frequentemente marginalizado dentro do contexto simbólico da população brasileira, tornando a presença de mulheres negras, em posições de liderança, uma exceção.
A pesquisa “Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil” aponta dados preocupantes entre os anos de 2024 e 2025, onde 21,4 milhões de mulheres brasileiras foram alvos de algum tipo de violência, sendo 37,2% do valor total, mulheres negras, deixando evidente ações e comportamentos que causam danos fundamentados em problemas variados com o gênero feminino.
Leia mais: Pesquisadora paraibana visa transformar algas marinhas em tecidos
Estas agressões partem, desde das limitações de oportunidades profissionais, até a negação de segurança física, psicológica ou financeira. Considerar a questão racial é um ponto essencial para compreender melhor tais dados.
No mês de Julho, a empresa de telecomunicações, Vivo, realizou o evento “Julho das Pretas”, ao qual Liliane Rocha, Chief Executive Officer (CEO), fundadora da Gestão Kairós e autora do livro “Como ser uma liderança inclusiva e ainda tratadas como fenômeno”, foi convidada à participar. Ela relata que durante o evento surgiram propostas surpreendentes e inovadoras, e ressalta as lutas pelas conquistas das mulheres, especialmente as mulheres pretas.
“Tive a honra de participar de um painel da Vivo. A liderança teve uma ideia inusitada: o auditório seria todo composto por uma plateia de mulheres negras, profissionais da empresa. Em 20 anos de carreira, sempre que falo sobre diversidade e inclusão em grandes empresas, a plateia é majoritariamente composta por pessoas brancas, e em geral por homens. Nunca havia tido a oportunidade, reforço, dentro de grandes empresas, de falar com uma plateia tão feminina e tão preta”, relatou ela em um artigo de opinião.
Momentos como esse são fortes símbolos de avanços rumo à direção mais equalitária, encarando diversidade e inclusão como justiça social, mas também como estratégias empresariais, considerando que 29% da população é composta por mulheres negras e que, de acordo com um estudo da Locomotiva, a população negra possui um poder de consumo estimado em R$ 1,9 trilhão anualmente.
Leia também: Justiça indeniza varredor de rua em R$ 15 mil por sofrer racismo religioso